By Radioabrolhos 28/02/2018
Um palco foi armado por 70 vereadores de 25 municípios em Nova Venécia (noroeste) na tarde dessa terça-feira (27) para receber o governador Paulo Hartung. Tinha também espaço para o senador Ricardo Ferraço (PSDB).
O que os vereadores não contavam é que a sociedade de Nova Venécia não esqueceu golpes do governador ao município. Um deles foi a recusa de construir uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) no hospital São Marcos, organização filantrópica.
A comunidade acusa o governador de levar para Guaçuí, sua cidade natal, os oito leitos desta UTI que haviam sido aprovados para Nova Venécia no governo anterior. Tudo estava pronto para o inicio da construção, mas Paulo Hartung foi empossado, e lançou uma pá de cal no projeto veneciano.
Os moradores se sentiram humilhados pelo fato de o governador passar três anos de seu governo sem dar as caras na região. E, de repente, no ano de eleições, eis que Paulo Hartung recebe tratamento de astro pelos vereadores.
Há no município de Nova Venécia, organizações da sociedade civil que discutem política. É o caso do Grupo de Inteligência Municipal (GIM).
O GIM foi criado por moradores para ficarem de olho nas decisões tomadas pelos vereadores da cidade. Participam pessoas que não podem estar filiadas a algum partido político.
O professor Weriquison Curbani, que ensina filosofia na unidade local do Instituto Federal de Educação (Ifes), disse que informados da reunião que os vereadores preparavam para receber o governador Paulo Hartung e o senador Ricardo Ferraço, e entendendo que era simplesmente um palco para os seus discursos, o GIM revolveu discutir a questão com a comunidade.
Os moradores lembraram da citação do governador na Operação Lava Jato pela Odebrecht, bem como no caso da construção do posto fantasma, um investimento milionário feito para nada.
A denúncia lembrada pelos moradores de Nova Venécia foi a delação do ex-diretor da Odebrecht, Benedicto Junior. Ele disse que se encontrou com Paulo Hartung em 2010 e 2012, na residência oficial do governo e no escritório de Hartung. Nos encontros, segundo Benedicto, ficou acertado que a Odebrecht repassaria R$ 1,8 milhão, via caixa dois, para campanhas. O governador recebeu o codinome de “Baininho” nas planilhas da empresa. No ano passado, porém, Hartung conseguiu se livrar da investigação.
Já o caso do posto fantasma é um dos maiores escândalos da primeira Era Hartung. As obras do posto fiscal São José do Carmo, em Mimoso do Sul, levaram a Promotoria do MPES a acusar Paulo Hartung e outros de torrarem R$ 25 milhões do erário sem a produção de qualquer utilidade ou retorno social para a população.
Foi este entendimento, como relata o professor Weriquison Curbani, que levou estudantes e outras pessoas da comunidade a ocupar o auditório da Câmara de Nova Venécia, local escolhido pela Associação das Câmaras Municipais do Espírito Santo (Ascames) para realizar um “workshop”. As pessoas abriram suas faixas e cartazes de protesto contra o governo. Informado, Paulo Hartung fez meia volta e não compareceu.
O senador Ricardo Ferraço (PSDB), que já estava no local, teve de ouvir os protestos. Foi lembrado que ele não tem moral para falar sobre administração publica, pois é investigado na Operação Lava Jato por ter recebido propina da Odebrecht.
Ricardo Ferraço é investigado na Operação Lava Jato por conta de declarações dos executivos da Odebrecht Sérgio Luiz Neves e Benedicto Júnior. Eles contaram ter pago caixa dois de R$ 400 mil para a campanha do capixaba ao Senado em 2010 por meio do setor de operações estruturadas da construtora. À época, Ferraço era filiado ao MDB, partido pelo qual disputou a eleição. O beneficiário foi identificado pelo codinome “Duro”. Ao contrário do governador, Ferraço ainda não conseguiu arquivar o processo contra ele.
A meia volta de Paulo Hartung e as manifestações em Nova Venécia ganharam a mídia social. Em dos registros, a afirmação de que a população, que participou em peso do evento, deu um recado direto para o governador e o senador tucano.