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Traficantes buscam locais com irrigação para plantar maconha no interior da Bahia

A localidade de São João Operário, na zona rural de Esplanada, no Nordeste da Bahia, era sobrevoada por um drone, quando as imagens mostraram à polícia o que já vinha sendo procurado: uma plantação de maconha. A ‘lavoura’ rendeu 1,5 tonelada da erva, avaliada em R$ 2,2 milhões. Apreensões assim aconteceram pelo menos 14 vezes este ano, conforme vem sendo divulgado pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).

Quem erradicou essa plantação mais recente, anteontem, foram equipes da Coordenação de Operações Especiais (COE) e do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), da Polícia Civil da Bahia. Mas as investigações começaram bem antes. No ano passado, durante a operação Conhecer, Operar e Aproximar (COA), que aconteceu em Lauro de Freitas, um dos suspeitos disse à polícia que havia maconha plantada em Esplanada.

As primeiras informações da SSP são de que a plantação pertencia a João Cleison Carvalho, o Didi, preso este ano em Maceió (AL). Didi, um velho conhecido da polícia (leia mais ao lado), é líder de uma quadrilha que atua na região.

Rio São Francisco
A região de Esplanada, aliás, é uma das poucas onde houve apreensão este ano e que não ficam próximas ao Rio São Francisco. Das nove cidades, cinco são margeadas pelo Velho Chico. A presença de rios facilita o cultivo da maconha, explica o delegado Marcelo Sansão, diretor do Draco.

“Temos plantio no Brasil até por termos um clima favorável, tanto que a maconha necessita de uma irrigação constante. Ela tem que ser irrigada de manhã, normalmente, e à noite”, explica.

Isso faz com que áreas onde existam rios e lagos ou, ainda, que possam fornecer água subterrânea, sejam mais visadas pelas quadrilhas.

Os locais escolhidos normalmente são escondidos. São áreas que dificultem a visualização, mesmo com sobrevoo. No entanto, a polícia costuma observar justamente essas regiões – próximas a margens de rios e lagos.

Este ano, além de Esplanada, plantações foram erradicadas em Juazeiro, Vera Cruz, Seabra, Abaré, Xique-Xique, Santa Brígida, Ibitiara e Sento Sé. Duas apreensões foram feitas em quintais de residências e, no caso de Esplanada, não há um total de pés encontrados. Nos demais locais foram achados mais de 143 mil pés de maconha.

As estruturas mantidas pelas quadrilhas são grandes. “Já teve situações de pegarmos estruturas de irrigação altamente sofisticadas. É costumeiro que eles façam acampamentos dentro do plantio para não chamar atenção”, diz.

Roça invadida
Outra plantação foi localizada recentemente em Sento Sé, no Vale do São Francisco, nessa  terça-feira (8). Um agricultor acionou a polícia depois que foi avisado que havia dois homens em sua roça. Ele achava que eram invasores costumeiros que roubaram as plantações.

Mas, ao chegar com os policiais, a surpresa: no lugar de hortaliças, havia 1,6 mil quilos de maconha pronta para consumo. A situação aconteceu no povoado de Quixaba, na zona rural do município. Os dois homens acabaram presos no mesmo dia: Laurêncio Alípio, 45 anos, e Sebastião de Barros. Os traficantes já tinham feito o plantio há pelo menos seis meses e já tinham colhido mais de 500 pés, irrigados em sistema de gotejamento.

Laurêncio era ex-caseiro da roça onde plantava a maconha e tinha sido visto no local no dia anterior por um funcionário do agricultor – foi o que levantou a suspeita da polícia. Ele e o comparsa confessaram o plantio. “Eles não fazem parte de facção e comercializam  na própria região. O quilo da droga pronta custa de R$ 400 a R$ 500”, contou um tenente.

Outras cidades da região também enfrentam o problema. É o que diz o delegado Felipe Neri, coordenador da 19ª Coorpin (Sento Sé), que aponta Campo Formoso como local onde a ação é recorrente: “Porque é muito grande, sempre em locais de mata fechada, que fica difícil chegar, saber dono”, explica.

O delegado Marcos Alessandro, da 13ª Coorpin (Senhor do Bonfim), explicou que os responsáveis por esse tipo de plantação não costumam ficar nos locais – apenas pessoas contratadas por eles cuidam do cultivo: “Eles fazem um acampamento bem precário, onde as pessoas vão morar lá quase 24 horas. Normalmente, os acampamentos têm apenas um fogão, botijão de gás e as comidas para serem preparadas lá”.

Rentável
O combate da polícia baiana às plantações de maconha no estado busca reduzir a oferta da erva. Por ser rentável, a Polícia Civil se preocupa com uma possível “troca” de lavouras.

“O plantio é muito benéfico financeiramente, porque tem um gasto muito pequeno. É muito mais barato do que plantar tomate, por exemplo, porque, por atuar no mercado ilícito, a maconha termina tendo um valor de mercado maior”,afirma o delegado Marcelo Sansão.

Por isso, segundo ele, existe uma preocupação da polícia para que agricultores – até mesmo desavisados, mas enxergando o lucro – troquem seus cultivos. “Já teve casos de a gente prender o agricultor e ele ser bem ignorante,
no sentido de desconhecer aquilo (que plantava)”, diz.

A média de valor da maconha preparada para venda é de R$ 800 a R$ 1 mil. A maior parte das plantações é feita por quadrilhas ou por grupos vinculados a elas. “A gente sabe que está impactando na questão financeira porque impactamos na possibilidade de eles se realimentarem”, declara.

Velho conhecido
O traficante João Cleison Mota Carvalho, o Didi, por exemplo, é um desses conhecidos da polícia que pode ser responsável pela plantação achada em Esplanada.

De acordo com levantamento feito pelo Draco, ele responde a oito inquéritos, cinco processos na Justiça, além de um número não preciso de condenações e também já conseguiu fugir do sistema prisional. Além de roubo qualificado, dano ao patrimônio público, tentativa de homicídio e homicídio qualificado, Didi é ‘especialista’ em roubo a banco.

“Ele é alvo nosso mais direcionado pra questão de combate à instituições financeiras, mas eles dois têm ligação, porque se retroalimentam. Quando há um impacto maior na área de droga, há consequentemente um crescimento nas ocorrências contra instituições financeiras, como uma forma de se capitalizarem, é algo comum”, explica o delegado Marcelo Sansão.

Veja outras plantações erradicadas esse ano na Bahia:

Juazeiro
22/jan e 7/fev: Mais de 3 mil pés achados no primeiro dia e 19 mil no segundo.

Vera Cruz
28/jan e 17/mar:  Achados 50 pés no primeiro dia. Depois, homem foi preso com plantação no quintal de casa.

Seabra
17/mar: Menor apreendido com plantação de maconha no quintal de casa.

Abaré
20/fev e 21/abr: Mais de 25 mil pés achados no distrito de Ibó. Depois, 2,5 mil pés achados na cidade.

Xique-Xique
2 e 13/mar: Achados 3,5 mil pés e dois homens presos. Depois, 20 mil pés localizados em zona rural da cidade.

Santa Brígida
17/mar: Achados 30 mil pés e duas pessoas presas.

Ibitiara
2/abr: Dois presos enquanto regavam 50 pés de maconha.

 

Por: Bruno Wendel, Thais Borges e Pedro Vilas Boas*