Assim que foi lançada no ano passado, a série 13 reasons why, da Netflix, dividiu opiniões. Tudo isso porque a produção, baseada no livro homônimo de Jay Asher, tratava abertamente de suicídio, por meio da história de Hannah Baker (Katherine Langford), uma jovem que, antes de se matar, grava sete fitas explicando os 13 motivos que a levaram ao ato — os “porquês” têm a ver com as pessoas que interagiam com ela na escola.
Por tratar de um assunto tabu e perigoso, pais e profissionais da saúde ficaram assustados com a abordagem do tema, que ia contra uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre como deve ser retratado o suicídio para não ser uma espécie de gatilho para outros casos.
Os mais jovens gostaram da maneira como o assunto foi retratado na série, que consideraram fiel aos problemas da juventude, com abordagem ainda de assuntos como bullying e abuso sexual. Além disso, pesquisas mostraram que o número de jovens que buscaram ajuda após assistir à série aumentou, assim como a abertura da conversa com os pais sobre suicídio.
Em meio a esse território de debate é que estreia a segunda temporada de 13 reasons why — os 13 novos episódios chegam ao serviço na sexta-feira. Após as críticas, a Netflix respondeu colocando no início da série um vídeo explicativo. Nele, o elenco alerta sobre os temas da produção e mostra alternativas para quem esteja passando por algum problema parecido. O serviço até lançou um site 13ReasonsWhy.info, em que os espectadores podem buscar ajuda.
“Somos uma série de tevê, um entretenimento, mas eu entendo que afeta as pessoas. Então, a Netflix fez um ótimo trabalho dando opções de pesquisa”, afirma Alisha Boe, atriz que interpreta a personagem Jessica Davis, que ganha um tempo de tela maior com a abordagem da violência sexual. Na primeira temporada, a jovem foi uma das meninas abusadas por Bryce Walker (Justin Prentice), assim como Hannah. “Precisávamos informar a nossa audiência para que eles tomassem a decisão se estão ou não prontos para assistir (à série). Quando eles assistem, eles têm recursos”, analisa sobre a introdução do vídeo.
Para Christian Navarro, o intérprete de Tony Padilla, personagem que, na primeira temporada, fica responsável por entregar as fitas após a morte de Hannah, afirma que o elenco percebeu, com a primeira temporada, a força de discussão da série e a importância disso. “Depois da primeira temporada, nós percebemos como uma série dessa é um veículo para mudanças na sociedade de, pelo menos, introduzir uma conversa. Agora, nós sabemos o impacto que pode ter e as conversas que podem surgir”, completa. Na segunda temporada, Tony introduz a discussão da raiva que se transforma em agressão física, já que ele está em condicional após agredir um homem.
Outras perspectivas
Se a primeira temporada teve como foco a história contada por Hannah Baker, a sequência traz os outros lados da mesma narrativa sob o ponto de vista de outros personagens, além de mostrar a vida de cada um tentando lidar com os próprios problemas após o suicídio da protagonista, e ainda coloca luz sobre alguns temas que chegaram a ser introduzidos na estreia, como abuso sexual, bullying e o uso de armas.
“Primeiro, nunca foi sobre suicídio. Eu diria que a série é sobre o que acontece depois disso, como afeta a vida das pessoas e como os personagens se tornaram pessoas melhores. E acho que ,quando você tem uma série que traz questões de justiça social, bullying, suicídio e abuso sexual, coisas como essa, a progressão natural é continuar a falar sobre essas coisas e colocar luz em assuntos que estavam no escuro na primeira temporada”, explica Christian Navarro.
Alisha Boe concorda: “Na primeira temporada, vemos o lado de Hannah da história e tem muitos personagens que são interessantes. Na segunda, a gente aprende tanto sobre eles. Temos a chance de ver o coração de cada personagem, o que os motiva, as famílias deles, vamos ver mais famílias e porque eles fazem o que fazem”, completa a atriz.
O ator Brandon Flynn vive Justin Foley, o ex-namorado de Jessica e que era amigo dos integrantes do time da escola, responsáveis pelos maiores casos de bullying na história. Nos novos episódios, a série mostra os impactos dos problemas do jovem em casa. Ele acaba se tornando um viciado em drogas, como a mãe. “Foi muito legal voltar para continuar a jornada de Justin. Foi um exercício de descoberta. Agora vamos ver como ele está lidando com tudo que aconteceu. Mostra que tipo de pessoa ele é”, revela.
Novos ângulos
A temporada começa mostrando que a família de Hannah entrou com uma ação judicial contra a escola Liberty, e é esse julgamento que perdura por toda a temporada. Olivia Baker (Kate Walsh) quer responsabilizar a instituição por ter sido displicente com a filha, que havia revelado ao conselheiro da escola Kevin Poter (Derek Luke) um estupro e deu sinais aos professores de atitudes suicidas em um poema.
O grande assunto da sequência é o abuso sexual. Tema bastante oportuno, já que diversas denúncias de casos no audiovisual e no esporte vieram à tona nos últimos meses. E, por conta disso, o foco acaba ficando em Jessica Davis e nos demais personagens ligados ao caso. “Jessica era uma garota feliz até uma pessoa tomar vantagem dela e mudar o curso da vida dela. Foi uma experiência muito dramática, e o trauma muda as pessoas. Então, eu realmente espero que isso tenha um impacto nas pessoas e que elas vejam o quanto as atitudes delas afetam outras pessoas”, afirma.
“Pessoalmente, eu estava empolgada para voltar para a segunda temporada para continuar a história da Jessica. Mas também de explorar o depois do estupro e o fato de ela estar aberta para falar com o pai. E acho que é muito importante, porque não há muitos programas de televisão ou filmes, que eu tenha visto, que joguem luz sobre isso. Isso foi incrivelmente importante para mim”, define a atriz Alisha Boe sobre os rumos de sua personagem na segunda temporada e a importância da abordagem do tema.
Por: Adriana Izel