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Bahia tem o maior número de desalentados do país, mostra IBGE

Os três primeiros meses de 2018 não foram fáceis para os trabalhadores baianos. A Bahia registrou, entre janeiro e março deste ano, o maior contingente de desalentados do Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral (Pnad), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Bahia chegou a 805 mil desalentados, recorde histórico no estado e maior número entre todas as unidades da federação. Já no Brasil, o número total foi de 4,630 milhões. O conceito de ‘desalentado’, segundo o IBGE, é toda a população que está fora da força de trabalho tanto por não conseguir emprego, quanto não ter experiência, ser muito jovem ou muito idosa ou não encontrou emprego na localidade onde mora. Em todas essas opções, a pessoa, se tivesse conseguido trabalho, estaria disponível para assumir a vaga. Todas essas pessoas desistiram de procurar trabalho, daí o nome ‘desalentado’.

De acordo com os dados da Pnad, o Nordeste foi a região do país com maior número de trabalhadores nessa condição de desalento, um total de 2,8 milhões de pessoas. Dos nove estados da região, sete estão entre os 10 mais desalentados. (Confira o ranking no final do texto).

Desocupação
No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desocupação no estado (no mesmo primeiro trimestre de 2018) ficou em 17,9% – houve um aumento em comparação à do 4º trimestre de 2017 (15,0%), porém abaixo da taxa do 1º trimestre de 2017 (18,6%), que havia sido a maior da série histórica até então.

Foi a segunda taxa mais elevada dentre os 27 estados –ficando atrás apenas do Amapá (21,5%). A Bahia também teve o segundo maior aumento em relação ao 4º trimestre de 2017, abaixo apenas do crescimento da taxa em Sergipe (de 13,4% para 17,1%). Ficou ainda bem acima da taxa para o Brasil como um todo (13,1%).

Segundo a analista de informações do IBGE, Mariana Viveiros, para entender a taxa de desocupação no estado é preciso saber também que a piora no mercado de trabalho no geral já é esperado no primeiro trimestre de qualquer ano. Isso porque uma série de empregos temporários deixam de existir e poucos trabalhadores são absorvidos pelo mercado. No entanto, o caso da Bahia é mais especial, já que desde 2016 a taxa de desocupação no estado vem crescendo.

Na capital e na Região Metropolitana de Salvador (RMS), a situação também piorou. A taxa de desocupação aumentou nos dois casos: em Salvador, ficou em 15,7% no 1º trimestre deste ano, mostrando tendência de alta frente ao 4º trimestre (13,6%) e ao 1º trimestre de 2017 (15,3), enquanto a RMS foi de 19,2 – no 4º trimestre de 2017 era de 16,5%.

“Essa situação não demonstra qualquer sinal claro de recuperação do mercado de trabalho após essa última crise que o país inteiro passou e o estado [Bahia], realmente, acabou sofrendo mais.” avalia a especialista e completa: “Continuamos a ter uma redução de pessoas no mercado de trabalho e um aumento da procura por emprego, o que configura o caso mais clássico de crise no mercado que é quando não se atende uma demanda e ainda se demite mais pessoas.”

Segundo a especialista isso torna ainda mais difícil a procura por emprego e deixa a maioria das pessoas desmotivadas demais para investir na busca. Isso ajuda a entender o alto número de desalentados

Menos trabalho
O crescimento da taxa de desocupação está diretamente ligado a um fator: o desemprego. Em todo o estado, 256 mil pessoas deixaram de trabalhar no primeiro trimestre do ano – levando, assim, a uma redução estimada em 4,2% do contingente da população ocupada (5,885 milhões de pessoas). No primeiro trimestre do ano passado, a redução do número de pessoas trabalhando foi bem menor – na época, 23 mil perderam postos de trabalho.

Ao mesmo tempo, a população desocupada (que não estava trabalhando e procurava trabalho) aumentou 203 mil pessoas (um crescimento de 18,8%), em comparação aos três meses anteriores.

Segundo o IBGE, “essas movimentações foram bem parecidas tanto na cidade de Salvador quanto na região metropolitana da capital – ambas apresentando queda no número de pessoas trabalhando e aumento entre os que procuravam trabalho”.

Foi o que aconteceu também em relação ao contingente de empregados com carteira assinada que, no primeiro trimestre de 2018 chegou ao menor nível da série histórica, desde 2012, com 1,524 milhão de pessoas.

Por setores
Das dez atividades acompanhadas pelo IBGE na Bahia, houve diminuição do número de pessoas trabalhando em oito. Os piores resultados foram registrados na construção, no comércio e na reparação de veículos automotores e motocicletas. O saldo foi de menos 50 mil pessoas ocupadas em cada um dos setores.

Para Mariana Viveiros, no caso da construção não é novidade. “Ela sistematicamente já tem estado entre os grupos de atividades que mais tem reduzido postos de trabalho na Bahia.”

No caso do comércio ela ressalta a importância de considerar que no quarto trimestre de cada ano, há uma tendência de ter um aumento na ocupação devido ao crescimento nas vendas do fim de ano e empregos temporários que eventualmente surgem. Porém essa redução no primeiro trimestre não acontece sempre. “Em anos que o mercado de trabalho está melhor ela não aconteceu, como nos anos de 2014 e 2015. Mas aí existe uma influência que a gente não consegue medir e dizer se é de fato um fator sazonal ou realmente em função do setor que já vinha demitindo pessoas.”

Os dois únicos grupamentos de atividades com variações positivas na ocupação nessa comparação foram Alojamento e alimentação (+ 30 mil pessoas ocupadas) e Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (+3 mil pessoas). Ambas são consideradas estatisticamente estabilidade.

A Construção também tem a maior redução da população ocupada frente ao 1º trimestre de 2017 (-69 mil trabalhadores), seguida por Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-65 mil pessoas). Nessa comparação, quatro grupamentos de atividades têm saldos positivos de ocupados: administração pública (+78 mil), alojamento e alimentação (+42 mil), outros serviços (+40 mil) e comércio (+ 20 mil).

Rendimento
O rendimento médio real dos baianos foi de R$ 1.525, enquanto o de Salvador ficou em R$ 2.496 no 1º trimestre de 2018, um pouco menor que o do 4º trimestre de 2017 (R$ 2.561). As variações no salário não são estatisticamente significativas, de acordo com o IBGE. Na RMS, o cenário foi de rendimento R$ 2.330 no 1º trimestre deste ano, frente a 2.394 no 4º trimestre e R$ 2.061 no 1º trimestre de 2017.

No 1º trimestre, na Bahia, os empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada (exceto empregados domésticos) somavam 1,524 milhão de pessoas. Era o menor contingente da série histórica da PNAD Contínua (desde 2012).

Embora não tenha havido variação estatisticamente significativa em relação ao 4º trimestre de 2017 (1,561 milhão), houve perda de 37 mil empregos com carteira nessa comparação (-2,3%). Frente ao 1º trimestre de 2017 (1,570 milhão), os empregados com carteira assinada na Bahia também se reduziram em 46 mil pessoas (-2,9%) – ainda que estatisticamente a variação não seja significativa.

Ranking – números do desalento no Brasil

 Bahia 805 mil

 Maranhão 430 mil

 Minas Gerais 410 mil

 São Paulo 400 mil

 Pernambuco 331 mil

 Ceará 329 mil

 Pará 315 mil

 Alagoas 243 mil

 Piauí 184 mil

10º Rio Grande do Norte 181 mil

Por: Thaís Borges e Kelven Figueiredo