Greve dos caminhoneiros deve piorar a atividade econômica e levar a aumentos de preço, dizem analistas
A greve dos caminhoneiros deve trazer dois impactos para a economia brasileira: a piora da atividade econômica e um efeito pontual de aumento nos índices de inflação de maio.
Os economistas consultados pelo G1 dizem que ainda é cedo para dimensionar o tamanho do impacto causado pelo movimento que se espalhou pelo País – até porque não é possível precisar qual será a duração do protesto -, mas dizem que é certo que eles terão reflexos econômicos.
O movimento obrigou uma série de empresas a interromper as atividades. O caso mais emblemático foi o das montadoras: na sexta-feira elas pararam as fábricas por causa da falta de peças e problemas de logística.
“Claramente esse movimento traz um efeito negativo para a economia”, afirma a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.
“Os efeitos mais evidentes serão em toda a linha de produção da indústria, mas até mesmo em serviços deve respingar, como no segmento de transporte”, diz.
A piora de perspectiva para o cenário econômico por causa da greve dos caminhoneiros ocorre num momento bastante delicado. Os números divulgados até agora mostram que o desempenho da economia está mais fraco do que o esperado, o que já levou os analistas a reduzirem a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.
No último relatório Focus, do Banco Central, os analistas consultados esperam um crescimento de 2,50% em 2018. Há quatro semanas, a expectativa era de alta de 2,75%.
“Se essa situação se prolongar, ela já começa em colocar em risco até o crescimento de cerca de 2,5% que se esperava para o fechamento de 2018”, afirma o sócio-diretor da consultoria MacroSector, Fabio Silveira.
Na sexta-feira (25), o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, admitiu que a greve tem um impacto muito relevante na economia.
Preços devem ter impacto pontual
Parte dos analistas também espera um impacto pontual na inflação. A greve provocou escassez de vários produtos, o que levou a um aumento recente dos preços de alimentos e combustíveis. Quando há falta de oferta de produtos, a tendência no mercado é de alta de preços. Se a greve afetar outros setores, outros segmentos também poderão ser afetados.
“É bastante possível que essa greve traga impactos no curto prazo”, afirma o economista da consultoria GO Associados.
“Por causa da escassez, os preços de alimentos e combustíveis devem ser os mais impactados.”
O aumento esperado para a inflação, no entanto, não deve alterar as projeções para o ano . Com a fraqueza da economia, a inflação de serviços está mais baixa do que o esperado e, portanto, há margem de manobra para absorver qualquer choque pontual.
A GO Associados, por exemplo, espera que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio fique em 0,22% – a projeção não inclui os impactos da greve – e encerre o ano em 3,6%, bemabaixo da meta do governo, que é 4,5%.
Os efeitos na economia causados pela greve podem ser mitigados se o movimento tiver uma curta duração, segundo os analistas. Se isso ocorrer, é provável que os indicadores de junho tenham um desempenho acima do esperado e possam compensar parte das perdas de maio na produção e o aumento pontual da inflação.
Por: Luiz Guilherme Gerbelli, G1