Os planos de saúde estão pesando cada vez mais no orçamento das famílias. Os consumidores com convênios empresariais ou coletivos, cujas mensalidades não são controladas pelo governo, sofrem com reajustes muito acima dos índices de inflação, o que torna difícil a manutenção do benefício. A situação também não é fácil para as pessoas que aderiram a planos individuais ou familiares, já que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deverá divulgar neste mês um novo reajuste dos valores.
De acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o custo médio dos planos aumentou 4,32% neste ano, muito mais do que a variação geral dos produtos, de 0,92%. Em 12 meses, a discrepância é ainda maior: 13,51% para os convênios contra 2,76% da média geral de todos os produtos.
Fábio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), ressaltou que, depois da gasolina, os planos de saúde são os itens que mais têm pressionado os índices de preços. “É um produto que tem peso grande, de 4%, no IPCA, e que é inelástico, ou seja, as famílias têm dificuldade de cortá-lo do orçamento”, disse.
O advogado Rodrigo Araújo, especialista na área, disse que a inflação médica tem crescido muito devido ao encarecimento de equipamentos e remédios. Além disso, as operadoras abusam dos reajustes, refletindo falhas no acompanhamento da ANS, segundo ele. “Não são incomuns correções de 25% ou 30%”, afirmou. “No meu escritório, recebi um pedido para abrir ação contra uma operadora que aumentou as mensalidades em 84%”, disse.
Mesmo nos planos individuais, explicou Araújo, a ANS leva em conta os valores cobrados nos seguros coletivos e empresariais, o que permite que o mercado “faça seu preço”. A servidora pública Vânia Resende, 38 anos, está apreensiva. “Tenho muito medo de não dar conta de pagar”, admitiu.
A ANS informou que o reajuste dos planos individuais e familiares está em análise no Ministério da Fazenda e deve sair ainda neste mês. A agência frisa que reajustes de planos de saúde e índices gerais de preços são coisas diferentes. “O reajuste divulgado pela ANS é um índice de valor que agrega variação de preços e de quantidades, não é, portanto, um índice de preços. Ele é composto pela variação da frequência de utilização de serviços, da incorporação de novas tecnologias e pela variação dos custos de saúde”, completou.
Suspensão
Atendendo a reclamações de usuários, a ANS suspendeu temporariamente a comercialização de 31 planos de saúde de 12 operadoras, a partir da próxima sexta-feira. A medida afetará 115,9 mil beneficiários. A maioria das reclamações (39,53%) é relacionada a gerenciamento de ações de saúde. Já 15,85% são voltadas para coberturas; 15,04% a prazos de atendimento; 13% a atendimentos e 12% a reembolsos. Os beneficiários dos planos continuam a ter assistência, mas as operadoras “só poderão voltar a vender esses planos para novos contratantes se comprovarem melhoria no atendimento”, informou a ANS, em nota.
Por: Hamilton Ferrari e Letícia Cotta