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Hospital Municipal de Salvador recebe pacientes do interior da Bahia

Era para ser apenas mais um almoço. O garçom serviu um peixe bonito e os caranguejos estavam enormes. O taxista Roberval Paixão, 59 anos, nem acreditou quando viu o prato. Devorou tudo. Era um domingo, dia 20 de maio.

Depois, percebeu que a canela direita estava inchada e a região escura. Quatro dias adiante, procurou um médico e acabou indo parar no recém-inaugurado Hospital Municipal de Salvador. Hoje, é um dos 3.772 pacientes que já passaram pela unidade, aberta há dois meses – uma média de 54 por dia. Além de moradores de Salvador, também há pacientes de cerca de 50 municípios da Bahia.

Quando percebeu que precisaria de um médico, Roberval não pensou no Hospital Municipal. Preocupada, a esposa convenceu o marido a ir ao Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula. Mas mudaram de ideia no caminho.

“Quando entramos no táxi, o motorista nos disse que era melhor a gente ir no Hospital Municipal. Minha esposa não gostou muito, disse que era muito distante, mas o rapaz falou tão bem do hospital que a gente acabou aceitando a sugestão”, contou Roberval, que mora em Nazaré.

Ele deu entrada na unidade no dia 24 de maio e fez algumas observações sobre o que viu. O taxista disse que não encontrou tumulto na emergência, que foi atendido alguns minutos depois de ter chegado e que fez todos os exames solicitados pelo médico logo após a consulta.

Ontem, ele recebeu alta médica. “Rapaz, nunca tinha visto nada igual. O atendimento foi de primeira. Agora, vou recomendar para todo mundo”, disse.

Impressões
O relato de Roberval é similar ao de outros ex-pacientes da unidade. Mas, alguns descreveram o local como pouco movimentado. Por isso, o CORREIO resolveu visitar a unidade, que abriu no dia 4 de abril, e checar o que tem gerado tantos comentários.

A equipe chegou ao local no meio da manhã de ontem e observou o destaque para as letras vermelhas na fachada do prédio em que se lia “Emergência”. Do lado de fora, encontrou pouco movimento. Entrando no salão, um balcão recepciona os pacientes e acompanhantes e há portas para todos os lados.

O diretor da unidade, Adalberto Bezerra, explica que é nesse local onde tudo começa. Quando chegam no Hospital Municipal, os pacientes são classificados conforme o quadro e separados por cores de risco, como ocorre em todos os hospitais. A diferença está no que acontece em seguida.

Eles fazem a ficha e seguem um caminho de acordo com a gravidade com que chegam à unidade. Ou seja, quem está em situação de emergência entra por uma porta que dá acesso a uma sala de trauma ou de cirurgia, por exemplo. Enquanto isso, a urgência é encaminhada para a sala de medicação, de observação ou para a enfermagem. É importante lembrar que o hospital só atende por demanda espontânea casos de urgência e emergência. Depois atendimentos são agendados previamente (leia ao lado).

Atendimentos
O diretor garante que a unidade não tem nada de fantasma. Além dos mais de 3,7 mil atendimentos na emergência até ontem, o hospital realizou 4.344 exames de imagens e 30.351 exames laboratoriais, 790 internações e está com as unidades de enfermagem e de terapia intensiva (UTI) com lotação completa.

“Hoje, nossa taxa de ocupação é de 117%, ou seja, estamos com a lotação plena e mais 11 pacientes aguardando regulação. São pessoas que demandam especialidades que o hospital não atende, por isso precisam ser reguladas. A tecnologia de gestão e administração hospitalar que implantamos permite que as pessoas sejam atendidas mais rápido e sem criar tumulto”, disse Bezerra ao CORREIO.

Até o dia 20 de maio, dez pacientes do Hospital Geral do Estado (HGE) já tinham sido transferidos para o Hospital Municipal de Salvador. Os atendimentos lá, inclusive, causaram impacto direto no funcionamento das Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs da capital baiana (leia mais ao lado).

Nos dois últimos meses, desde que foi inaugurado na Boca da Mata, região de Cajazeiras, o Hospital Municipal de Salvador recebeu pessoas também de cerca de 50 municípios da Bahia. Eles vieram de cidades como Serrinha, no Nordeste da Bahia; Mairi, Miguel Calmon e Mundo Novo – todas no Centro-Norte do estado; além de Teofilândia, no Nordeste, próximo a Serrinha.

Interior
Anteontem, o agricultor Ivan Santos, 38, aguardou por quatro horas na estrada para buscar atendimento médico em Salvador. Na semana anterior, ele foi levado às pressas para um hospital do município de Teofilândia com dores no abdômen, onde foi diagnosticado com uma hérnia umbilical.

“Precisava fazer uma cirurgia, mas não tinha vaga no hospital. Tive que esperar por uma transferência até que consegui uma vaga nesse hospital”, contou Ivan.

Ele está em um dos 24 leitos de observação de pacientes adultos do Hospital Municipal. O espaço foi dividido em dois blocos, para homens e mulheres, com 12 camas cada. A previsão era que Ivan passasse por uma cirurgia na noite de ontem.

No total, foram realizados 320 procedimentos cirúrgicos na unidade. A especialidade com maior demanda do hospital é clínica médica, que concentra cerca de 65% dos atendimentos, seguida de ortopedia e cirurgia geral. Além disso, existe atendimento para as áreas de traumatologia, pediatria, e clínica geral.

A inauguração do hospital foi divida em três fases, com previsão para conclusão até 2019. Esta semana, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que solicitou à Santa Casa de Misericórdia, responsável pela administração da unidade de saúde, que o cronograma seja alterado.

O hospital estará com 100% da capacidade em atividade, ou seja, 210 leitos, até novembro deste ano (veja o ao lado). O investimento no foi de R$ 120 milhões. Na inauguração, a SMS informou que, com funcionamento pleno, o hospital terá 800 fucionários – 170 médicos.

Fila zerada de cirurgias ortopédicas
Segundo o gerente de Atenção da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Ivan Paiva, o funcionamento do Hospital Municipal de Salvador teve um impacto direto sobre as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Até ontem, 391 pacientes tinham sido transferidos das unidades para o hospital.

“Uma das especialidades do hospital é o atendimento de cirurgias ortopédicas. Havia uma demanda grande nas UPAs para esse tipo de atendimento, mas era demorado. Alguns pacientes esperavam por semanas. Hoje, não temos fila. Ela foi zerada. Isso ajudou a desafogar as unidades, abrindo espaço para outros atendimentos”, disse.

O hospital está em operação com três salas cirúrgicas, 90 leitos para adultos na enfermagem e dez leitos de UTI para adultos.

Quem cruza as portas da emergência fica impressionado com alguns detalhes. Elas levam a corredores amplos, cumpridos e iluminados, sem macas estacionadas ou pessoas pelo chão, o que facilita o vai e vem de médicos e pacientes.

Na enfermaria são dois pacientes por sala, com TV, banheiro privativo e ar-condicionado. Para a diretora médica do hospital, Tayse Barroso, o maior ganho é em relação à eficiência possibilitada pela tecnologia.

“O sistema permite, por exemplo, que o paciente faça os exames logo após eles serem solicitados pelo médico, e que o resultado de um raio-x seja enviado pelo computador. Não ter que esperar pela impressão da chapa agiliza o atendimento e torna o serviço mais eficiente, por exemplo”, explicou.

Nas salas, camas largas para os pacientes e poltronas reclináveis para os familiares. “Se não fosse um hospital, eu com certeza faria questão de voltar”, brincou uma paciente.

Como funciona atendimento
A costureira Marluce Lima, 36 anos, levou ontem a filha de cinco meses, Maísa, para fazer um ultrassom do quadril no Hospital Municipal de Salvador. Apesar de o atendimento ter sido realizado no hospital, o agendamento não foi na unidade.

“Moro na Cajazeiras VIII e fui até o posto de saúde para marcar o exame dela. Como esse é o hospital mais perto de minha casa, marcaram o atendimento aqui. Eu sabia que não adiantava ter vindo direto tentar fazer a consulta. Tinha que marcar antes. Estive aqui na semana passada e foi rápido”, contou.

Marluce está certa. O atendimento no hospital acontece por demanda espontânea apenas para urgência e emergência, portanto – não adianta ir fazer fila na porta da unidade. Também são atendimentos pacientes encaminhados de outros locais via regulação.

Os exames de imagem e as consultas precisam ser agendados nos postos de saúde e nas UPAs. No local são realizados raio-x, ultrassonografia, tomografia, eletrocardiograma, eletroencefalograma, teste ergométrico, holter, ecocardiograma, eletrocardiografia e exames laboratoriais.

Segundo a direção, alguns pacientes procuram o hospital em situações em que não há necessidade de atendimento imediato. Eles são atendidos e orientados a procurar outra unidade.

Por: Gil Santos