Sabe aquele sentimento de liberdade? Aquele gostinho de poder ir e vir na hora em que der na telha? Então, na noite da última quarta-feira, na Arena Kazan, as mulheres iranianas puderam ter esse misto de sentimentos. Tudo porque, em seu país, elas são proibidas de frequentar estádios e ginásios em eventos esportivos desde 1981. Pela lei local, elas não têm livre acesso às arenas.
A coisa era ainda pior. Até 1987, elas não podiam nem assistir às partidas pela televisão. Vale ressaltar que a lei que atinge as iranianas não necessariamente é regra para todos os países islâmicos. Mas certo mesmo é que a quantidade de mulheres para acompanhar o encontro entre Espanha e Irã era muito grande. E no rosto de cada uma delas, o semblante era um só: de felicidade.
– Essa é a terceira vez que eu venho numa partida de futebol na minha vida. Nenhuma delas foi dentro do Irã – contou uma torcedora.
Residente em Kazan há um ano, a estudante de medicina Romina afirmou que a Copa do Mundo pode ajudar a mudar a cabeça dos líderes iraniano.
– Espero que sim. As mulheres adoram futebol e querem participar dessa festa. Temos tentando mostrar como é possível mudar isso tudo.
Quem não teve a mesma sorte de estar numa Copa do Mundo para acompanhar as partidas livremente, como é o caso de Zeinab Sahafi, precisou buscar alternativas para entrar nas arenas locais.
– Para entrar em nossos estádios, nós temos que cortar as unhas bem curtas. Temos também que cortar o cabelo bem curto, ou então usar chapéu. Colocamos barbas e bigodes falsos, temos que disfarçar nossos seios – contou.
Ao longo dos últimos anos, as mulheres têm lutado para estar nos estádios de futebol. A cada nova classificação do Irã para uma Copa do Mundo, os jogadores costumam comemorar no principal estádio do país, o Azadi, e eles sempre se fazem presentes. Em 1997, cerca de três mil torcedoras invadiram o local para vibrar com a equipe que acabará de conquistar a vaga para o Mundial da França, em 1998.
– Temos tentado mudar isso. As mulheres adoram futebol. Essa é a minha primeira vez num estádio. Nunca tinha entrado e estou muito ansiosa por isso – afirmou Romina, que conversou com a reportagem acompanhada de seu pai.
No próximo domingo, no Esporte Espetacular, você vai ver uma coleção de lindas histórias sobre a paixão das iranianas pelo futebol.
Por Andrey Raychtock e Márcio Iannacca