Apesar da pouca idade, crianças já podem ser consideradas clinicamente deprimidas a partir dos três anos de idade. Se não tratada, esta depressão pode recomeçar quando os pequenos chegam a fase escolar, além de aumentarem as chances da doença reaparecer durante a adolescência e ao longo da vida.
Contudo, uma nova pesquisa, da Escola de Medicina da Universidade de Washington (EUA), demonstrou que uma terapia interativa envolvendo pais e filhos deprimidos pode reduzir as taxas da doença e diminuir a gravidade dos sintomas nos pequenos.
“Ao identificar o problema o mais cedo possível, e depois ajudá-las a tentar mudar a maneira como processam suas emoções, acreditamos que dê para alterar a trajetória da depressão e talvez reduzir ou prevenir surtos recorrentes da doença mais tarde na vida”, explicou Joan L. Luby, principal autora do estudo.
A equipe, que publicou suas descobertas no American Journal of Psychiatry, adaptou um tratamento conhecido como Terapia de Interação Pai-Filho (PCTI), que foi desenvolvido na década de 1970 para corrigir comportamentos disruptivos em pessoas em idade pré-escolar. A adaptação envolveu a adição de uma série de sessões focadas em emoções.
O programa de terapia de 18 semanas e 20 sessões começou com uma versão truncada do programa tradicional PCIT, e depois se concentrou mais em aprimorar o desenvolvimento emocional. A ideia era treinar os pais para saber administrar as respostas emocionais de uma criança em diferentes situações estressantes.
Entre as maneiras de se fazer isso, estava uma atividade na qual a criança, em uma sala isolada, recebia um pacote dos pesquisadores, que pedia para que aguardasse a hora certa para abri-lo. Ao mesmo tempo, um dos pais usava um fone de ouvido e era treinado por um terapeuta, enquanto ambos observavam através de um espelho falso.
Para a pesquisa, a equipe de Luby estudou 229 pares de pais e filhos. Essas crianças tinham entre três e sete anos e foram diagnosticadas com depressão. Metade recebeu a terapia adaptada, chamada PCIT-ED.
Em comparação com crianças que foram colocadas em uma lista de espera antes de iniciar a terapia, quem recebeu a intervenção imediatamente teve menores taxas de depressão após 18 semanas, além de um menor comprometimento geral. E, se a depressão continuasse após o tratamento, tendia a ser menos severa do que a observada nas crianças que ainda não haviam recebido a terapia.
As crianças no estudo serão acompanhadas para ver quanto tempo duram os efeitos da terapia. Isso porque a equipe está analisando os dados coletados três meses após o término do tratamento para verificar se as melhorias foram mantidas ou se algum sintoma de depressão havia retornado ao ponto anterior.
A ideia dos pesquisadores é conseguir acompanhar as crianças até a adolescência, para ver se uma intervenção na primeira infância proporcionaria benefícios sustentados.
Eles também estão avaliando imagens do cérebro como parte do estudo. Em pesquisas anteriores, Luby e seus colegas descobriram que as alterações cerebrais ligadas a depressão podem alterar a estrutura e função do cérebro, tornando as crianças potencialmente vulneráveis no futuro. Curiosamente, eles também descobriram que os sintomas de depressão clínica melhoraram nos pais que trabalharam com seus filhos durante o estudo.
Luby acrescentou que seu programa de terapia não requer psiquiatra e pode ser ministrado por clínicos com nível de mestrado. “Como leva apenas 18 semanas e não requer um psicólogo infantil ou psiquiatra, achamos que seria altamente viável colocar esse tipo de trabalho em clínicas comunitárias, falando do ponto de vista prático e em termos de custo”, diz.
Fonte: UOL