O britânico Joseph Jebelli conhece o Alzheimer de perto: tanto na família como no laboratório de pesquisa. O avô iraniano do cientista sucumbiu à doença, fato que o motivou a estudar o problema em seu nível mais microscópico. Mas Jebelli deu um passo além com o livro Em Busca da Memória, recém-lançado no Brasil pela Editora Planeta/ Crítica. Ele viajou pelo mundo, pela história e pelos estudos para redigir uma biografia do Alzheimer, dos primórdios de sua descrição pelo alemão Alois Alzheimer (1864-1915) até os avanços recentes e as perspectivas de tratamento.
Trata-se de um desafio dos grandes. O Alzheimer envolve uma área da medicina onde mais têm fracassado os projetos de remédios. Muitos começam bem nos testes preliminares, mas, na fase final, não demonstram o benefício esperado.
Um dos trunfos do livro de Jebelli é a sua dimensão humana: ele recolhe relatos de vítimas da doença e de seus familiares, construindo um painel em que mescla as dificuldades impostas pela perda da cognição (o Alzheimer não ataca apenas as lembranças) com a esperança de dias melhores. O neurocientista clama nossa atenção para aquele que será um dos maiores problemas de saúde pública do futuro — a projeção é que ele afete 135 milhões de pessoas no mundo por volta de 2050 —, sem perder de vista o otimismo com as reais chances de vencermos esse mal.
Na entrevista abaixo, o expert britânico compartilha as novidades, os desafios e as esperanças contra o Alzheimer:
SAÚDE: Entre as descobertas recentes sobre a doença, qual foi aquela mais impactante em sua opinião?
Joseph Jebelli: Creio que a principal conquista na compreensão do Alzheimer se deve aos avanços na genética molecular. As pesquisas das últimas décadas focaram em tratar os sintomas do problema, mas, com a tecnologia da genética molecular, hoje podemos entender e tratar as causas subjacentes ao Alzheimer. Sabemos, por exemplo, que ter o gene APOE4 é o maior fator de risco para a doença. E com novas técnicas aplicadas à genética, como o CRISPR (uma ferramenta de edição de genes), conseguiremos em breve modificar as chances de alguém desenvolver a condição.
Em qual linha de tratamento o senhor mais aposta hoje?
Considerando que ainda sabemos pouco sobre a doença, penso que é crítico recorrer a uma abordagem multifacetada. Precisamos continuar estudando formas de atacar as placas beta-amiloides e os emaranhados que destroem os neurônios, mas devemos investigar também outros alvos, como a participação do sistema imune e os fatores do estilo de vida.
Acredito que as células-tronco também serão vitais no futuro do tratamento. Hoje podemos transformar células da pele do paciente em células do cérebro, o que nos dá pistas sobre o seu tipo particular de Alzheimer. A abordagem personalizada será decisiva para desenvolver os remédios certos para diferentes pessoas.