O Brasil deixará a ONU (Organização das Nações Unidas), um antro “de comunistas”, caso Jair Bolsonaro seja vitorioso no pleito presidencial, prometeu o presidenciável do PSL.
“Se eu for presidente, eu saio da ONU. Não serve para nada esta instituição”, disse Bolsonaro neste sábado (18), numa cerimônia de cadetes da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende (RJ).
“Saio fora, não serve para nada, é um local de reunião de comunistas e de gente que não tem o menor compromisso com a América do Sul”, disse após ser questionado pela reportagem sobre a decisão favorável de um comitê da ONU pela candidatura do ex-presidente Lula.
O bom filho a casa torna: ali o capitão reformado Bolsonaro se formou, nos anos 1970, ele e também seu vice, o general Antonio Hamilton Mourão.
E sobre um concurso da PM paranaense que pedia “masculinidade” para as mulheres que desejassem integrar a corporação, esse princípio deveria valer na escola militar onde se graduou?
“Logicamente, alguma coisa talvez a mulher não possa fazer aqui, enfrentar uma marcha de 54 km, que é como a gente fazia aqui na academia, não sei se isso seria adequado para elas”, afirmou Bolsonaro. “Pelo que sei no momento, elas estão aqui vindo mais para a área técnica, não para a infantaria, para a cavalaria. Quem sabe num segundo momento.”
Um comunicado à imprensa avisava que “30 mulheres pioneiras na linha combatente empunharão pela primeira vez o próprio símbolo da honra militar”, uma réplica da espada de Duque de Caxias. Difícil foi localizá-las no meio da tropa de 418 fardados.
“É por ordem de altura, as maiorzinhas ficam mais pra frente”, justificou um militar que auxiliava as esquipes jornalísticas sobre a ausência delas nas primeiras fileiras -uma delas, a cadete Milena Canestraro, recebeu sua espada do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, com Bolsonaro posicionado atrás deles.
Enfileirada, a primeira turma mista da Aman cantava estrofes como “somos a esperança de um Brasil inteligente”.
A jornalistas o candidato à Presidência disse que Marina Silva foi agressiva com ele, enquanto a recíproca não poderia ser mais diferente, no embate sobre aborto que os dois tiveram na véspera, durante debate da RedeTV!. “Ela gritou comigo ali, mais nada. Me interrompeu, e eu a tratei com a maior cordialidade possível. Nada de agressividade [da minha parte], nunca fiz isso com mulher nenhuma.”
E continuou: “Olha só, o pessoal tenta me jogar contra as mulheres, os negros, os gays”. A deixa para lançar sua máxima quanto o assunto é o eleitorado feminino, com o qual tem índice de rejeição mais alto do que a média. Ele, sim, é o candidato que protegerá as mulheres, disse. “Entre a lei do feminicídio e a posse de arma de fogo, elas dizem que preferem as duas.” E Bolsonaro, como não cansa de repetir, é um defensor do armamento feminino para autodefesa.
Seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL), deputado que nem ele, afirmou à reportagem que a candidata da Rede tentou tirar vantagem de “sua condição de mulher” para desestabilizar Bolsonaro. Em vão.
Com uma “postura de estadista”, seu pai deu a “resposta que ela merecia, colocou ela em xeque”, afirmou. “Ela que perdeu as estribeiras. Foi se aproximando dele, elevando o tom de voz. Tentou colocar [Bolsonaro] em saia justa exatamente pela condição dela de ser mulher, para poder se vitimizar.”
Duas autoridades femininas, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e a advogada-geral da União, Grace Mendonça, foram à cerimônia.
Bolsonaro disse que “não teve o prazer de apertar a mão” de Raquel, que pediu a impugnação de Lula no mesmo dia em que o ex-presidente pediu o registro de sua candidatura ao Planalto.
Lembrado que Dodge denunciou também Bolsonaro, sob acusação de racismo, o presidenciável respondeu não ver “nenhum constrangimento” nisso e, em seguida, afirmou que a procuradora se deixou levar pela esquerda. “Ela se perdeu completamente, ela nunca foi a um quilombola. Ela foi levada por uma onda de esquerda politicamente correta.”
Dodge o denunciou ao Supremo Tribunal Federal por causa de uma palestra que Bolsonaro deu no Clube Hebraica do Rio em 2017. a PGR transcreveu trechos da palestra que seriam ataques a quilombolas, como o seguinte: “Eu fui em um quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas”. Para Dodge, o político se referiu a essas pessoas como se fossem animais, ao utilizar a palavra arroba.
Uma última palavra sobre o debate da noite anterior: Bolsonaro falou sobre a cola que escreveu com caneta na palma da mão (“Lula” e outros lembretes) e que foi registrada por fotógrafos. “É uma tática minha. Minha mão apareceu em todos os jornais do país, estou muito feliz com isso.”
Presença rara em eventos públicos, o mais novo dos quatro filhos homens de Bolsonaro, Jair Renan, 20, ficou num canto do pátio ao lado da mãe, Ana Cristina Valle, segunda ex-mulher do presidenciável. De terno azul celeste, -ele que nas redes sociais exalta o pai- se afastou assim que a reportagem o interpelou.
Outros filhos presentes: o primogênito, Flávio, candidato ao Senado pelo PSL, e o deputado Eduardo, que busca a reeleição.
Num segundo momento, Jair Renan filmou com o celular o pai dando entrevistas para a imprensa. A reportagem tentou nova abordagem. Seu irmão Eduardo, próximo, pediu rindo que o irmão fosse deixado em paz. “Dá dois anos para ele falar.” Em dois anos o país terá nova eleição, a municipal, lembrou a reportagem. Renan seguirá o caminho dos irmãos mais velhos e ensaiará a via política? O rapaz riu e acenou, sem dizer uma palavra.
Na volta, os formandos e seus familiares saíam do pátio onde numa fachada se lia “cadete! Ides comandar, aprendei a obedecer” e partiam em carros que tinham na traseira pneus estepes com capas temáticas: “Keep calm, the cavalry is here” (mantenha a calma, a cavalaria está aqui) e “nas mãos de Deus”.
Por Anna Virginia Balloussier