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Diagnóstico molecular leva ao aumento do tempo de sobrevida global em pacientes com câncer de pulmão avançado no Brasil

 

O acesso aos testes moleculares que identificam mutações genéticas EGFR em pacientes com câncer de pulmão não-pequenas células (CPNPC) é determinante para aumentar o tempo de sobrevida global após o diagnóstico no Brasil. É o que apontam os dados inéditos apresentados na última edição da 19º Conferência Mundial de Câncer de Pulmão (WCLC 2018), da IASLC (International Association for the Study of Lung Cancer), um dos principais eventos científicos de atualização sobre câncer de pulmão, que aconteceu de 23 a 26 de setembro de 2018, em Toronto, Canadá.

O estudo analisou 391 pacientes de 8 estados brasileiros, com diagnóstico de câncer de pulmão no ano de 2014, e que foram acompanhados por até 3 anos. Houve predomínio da população masculina (60,1%), média de idade ao diagnóstico de 64 anos, sendo que cerca de 80% foram atendidos no sistema público de saúde. Além disso, 74,2% eram fumantes ou ex-fumantes. Entretanto, o que desperta a atenção é a porcentagem de realização de testes que identificam possíveis mutações no tumor: apenas 65,5% realizaram o teste molecular no sistema privado, porcentagem que diminui para 50,3% entre os pacientes atendidos no sistema público.

E, ao passo que o acesso ao diagnóstico molecular ainda é restrito, o impacto da realização do teste para a sobrevida do paciente é determinante. Entre os pacientes com adenocarcinoma metastático que realizaram os testes moleculares, a média da sobrevida global foi de 14,2, versus 8,5 meses no grupo que não realizou teste molecular e seguiu o tratamento padrão. Nos pacientes que tiveram o diagnóstico positivo de mutação EGFR, o tempo de sobrevida global foi de 34,6 meses.

Diagnóstico escasso

 

Na última década, os avanços das terapias-alvo, que atacam diretamente o tumor, vêm possibilitando uma nova abordagem para o tratamento do câncer de pulmão. No entanto, segundo o Dr. Gilberto Castro Jr, oncologista clínico responsável pelo grupo de Tórax, Cabeça e Pescoço do ICESP (Instituto do Câncer de São Paulo) e um dos autores do estudo, os dados mostram que o acesso ao diagnóstico molecular e, consequentemente, ao tratamento com medicina de precisão ainda é restrito.

“Enfrentamos um cenário desafiador para o tratamento do câncer de pulmão avançado ou metastático.  No Brasil, cerca de 80% dos pacientes são diagnosticados com a doença já em estágio avançado ou metastático. Sendo assim, a adoção de políticas para assegurar a realização dos testes genéticos que identificam a mutação é algo urgente para mudarmos este cenário”, comenta o especialista.

“Dados brasileiros publicados na última década mostram que o CPNPC não escamoso, prevalente em fumantes, é considerado o tipo mais frequente de câncer de pulmão no País, atingindo cerca de 80% dos casos. Já quando se isola a frequência da mutação EGFR, percebe-se que esse tipo de mutação é menor no Brasil (22%) do que na Ásia, mas é maior do que na América do Norte e na Europa”, afirma a Dra. Clarissa Baldotto, Diretora do Núcleo de Integração Oncológica do Oncologia D’Or, no Rio de Janeiro.

O câncer de pulmão é o segundo tumor mais incidente em homens e o quarto mais prevalente entre as mulheres. No Brasil, são estimados mais de 31 mil casos entre 2018 e 2019 segundo o INCA¹, sendo que os dados sobre diagnóstico e tratamento deste tipo de câncer são considerados escassos no Brasil.

O estudo PANORAMA REASSERT, promovido pela AstraZeneca, foi um ensaio retrospectivo que incluiu consecutivamente pacientes recém diagnosticados com câncer de pulmão não-pequenas células, de janeiro a dezembro de 2014. Os dados foram coletados em 10 instituições brasileiras de câncer distribuídas em diferentes regiões do país. Dados demográficos, história médica, estadiamento do tumor, características patológicas, tratamentos e desfechos foram coletados e analisados.

Por Lucas Souza