Na crônica de hoje, eu vou contar um pouco sobre uma história que vivi e me ensinou muito a respeito da importância de uma alimentação saudável.
Passava um pouco das duas horas da tarde de uma quarta-feira dessas bem comuns. Eu estava na calçada de um cartório aguardando minha vez na fila para pegar um documento. Foi quando reparei em um homem abordando as pessoas que estavam ali próximas, mas sem que qualquer uma desse qualquer atenção a ele. O sujeito estava nitidamente abalado por dificuldades que a vida lhe impôs: um pouco sujo, com a barba por fazer e olheiras profundas que revelavam a privação de uma boa noite de sono. Mas as características que mais chamaram minha atenção foram a magreza extrema e o olhar triste que era dirigido como uma súplica para cada pessoa presente naquele local.
Quando ele chegou perto de onde eu estava, pude ouvir que aquele senhor meio decrépito estava pedindo às pessoas um pouco de comida para que ele pudesse continuar andando em busca de um emprego. Apenas isso: um pouco de comida para que tivesse forças de se manter em pé enquanto distribuía currículos pela cidade. Qualquer pessoa que algum dia esteve em seu lugar sabe o quanto é difícil não ter um mísero trocado para comer e não ter nada além da esperança de conseguir uma fonte de renda.
Ao chegar mais perto, ele obviamente me questionou se poderia ajudar. Antes de responder, rapidamente espiei o currículo que ele trazia nas mãos. O que li me deixou atordoado: aquele “senhor” era mais novo que eu e apesar de aparentar uma idade mais avançada, possuía apenas 32 anos. Quantos castigos a vida lhe deu para que ficasse com aquela aparência… fora que os empregos em que ele havia trabalhado anteriormente foram aqueles que exigiam o desgaste do corpo: pedreiro, jardineiro e pintor.
Por acaso, naquele dia, eu tinha um pacote de biscoitos na mochila que prontamente ofereci ao rapaz. Em sua humildade sincera ele esticou as mãos para receber os biscoitos, mas parou um instante me encarando e falou: “Eu não gostaria de abusar da sua gentileza moço, mas será que ao invés desse pacote o senhor poderia me pagar uma marmita de comida de verdade? Pode comprar e me dar, não quero dinheiro. E não me entenda mal, mas é que esse tipo de alimento não sustenta, preciso de alguma coisa que não seja embalada”.
Naquele instante eu, jornalista com inúmeras reportagens escritas a respeito da importância de uma boa alimentação, me senti envergonhado pela oferta. Ao nosso lado havia uma senhora vendendo marmitas de comida caseira. Não pensei duas vezes e lhe comprei duas, uma para o almoço e outra para o jantar. Dentro daquelas “quentinhas” estava a clássica mistura de arroz com feijão, carne, macarrão e salada. Depois de agradecer pela ajuda, o rapaz começou a sair, mas antes se virou para mim uma última vez e disse: “Sabe, acho que você entende que é melhor descascar alimentos naturais do que desembalar comida artificial”. Não tive tempo de responder, e nem precisava. Ele estava certo.
Por Janary Damacena