FM NEWS

A Freqüência da Notícia

Destaques Saúde

Baianas criam primeiro absorvente biodegradável do Brasil

 

‘O normal demora até 500 anos para decompor’

Redação FM News 

A publicitária baiana Hellen Nzinga, de 24 anos, conheceu outras duas mulheres em um programa gratuito de formação de lideranças e criou a EcoCiclo, que criou o primeiro absorvente biodegradável do Brasil. A ideia do grupo é desenvolver um produto mais barato que o tradicional, com decomposição na natureza mais rápida e que traga mais benefícios à saúde das usuárias.

Hellen Nzinga, gestora de projetos da EcoCiclo, conta que conheceu Patricia Zanella e Karla Godoy, responsáveis pelo marketing e pela gestão financeira do produto, no programa Prolíder, em São Paulo, há dois anos. A primeira mora em São Paulo e a segunda em Recife.

“A gente se conheceu no programa Prolíder e nasceu a EcoCiclo. Nos reunimos virtualmente e de vez em quando aqui em Salvador”, contou Hellen.

A quarta integrante da Ecociclo é Adriele Menezes, que também mora em Salvador. A engenheira química é amiga de Hellen e foi convidada para assumir a questão mais técnica do produto.

Além de ter um absorvente biodegradável, vegano e hipoalergênico do Brasil, a ideia do grupo é ter um projeto social que ofereça emprego para as mulheres na produção do produto.

“Um absorvente normal é feito de plástico, derivado do petróleo, ou seja, ele demora de 100 a 500 anos para se decompor e é tóxico, porque é um plástico, então pode causar doenças, infecções e alergias”, explicou Hellen.

“Uma pessoa que menstrua usa de 10 a 15 mil absorventes durante a vida, ou seja, são 10 a 15 mil absorventes que levam até 500 anos para se decompor. O primeiro absorvente foi criado em 1940, então o primeiro absorvente criado existe no mundo até hoje”.

Segundo Hellen, o absorvente da EcoCiclo demora cerca de seis meses para se decompor. “O nosso é feito de material biodegradável, que vai levar até seis meses para se decompor em descarte comum. Ele também é atóxico e hipoalérgico. Ele não traz malefícios, só traz benefícios à saúde. Um normal demora até 500 anos para decompor e o nosso seis meses”.

A publicitária disse que um pacote de absorvente biodegradável de origem inglesa custa R$ 50. Já o absorvente da EcoCiclo custaria cerca de R$ 10.

O grupo já fez um pedido de patenteação e o resultado deve sair em junho. Entretanto, Hellen contou que o direito do produto já é do grupo, pois o critério para patenteação é ordem de chegada.

Surgimento da EcoCiclo

Segundo Hellen Nzinga, a ideia de produzir um absorvente biodegradável veio na segunda etapa do programa de liderança, empreendimento e impacto social. A missão do grupo era criar um produto que impactasse na vida de um milhão de pessoas.

“Durante esse período, eu estava na casa de minha mãe, na Fazenda Coutos, e eu fui no mercado comprar algo para ela. Chegando lá, eu encontrei uma mulher contando moeda para comprar um absorvente”, contou Hellen.

“Eu comprei o absorvente para ela, mas fiquei pensando… Quem vai comprar o absorvente para ela mês que vem? Se ela tinha acesso às mesmas informações que eu tenho, sobre outros métodos, sobre o mal que aquele absorvente poderia fazer para ela e para o planeta. E, conversando com as meninas que também fazem parte do projeto, nasceu a EcoCiclo”.

A ideia é de que os absorventes da EcoCiclo sejam produzidos por mulheres no bairro de Fazenda Coutos.

Desafios e Machismo

Após lançar o absorvente, as co-fundadoras da EcoCiclo lutam para conseguir um financiamento. O grupo fez uma vaquinha coletiva, com o intuito de conseguir R$ 20 mil, mas lucrou cerca de R$ 8 mil. O dinheiro foi devolvido para as 69 pessoas que participaram das doações.

De acordo com Hellen, o grupo precisa de investimento para a produção da máquina de produção e a matéria prima do absorvente.
“Eu comprei o absorvente para ela, mas fiquei pensando… Quem vai comprar o absorvente para ela mês que vem? Se ela tinha acesso às mesmas informações que eu tenho, sobre outros métodos, sobre o mal que aquele absorvente poderia fazer para ela e para o planeta. E, conversando com as meninas que também fazem parte do projeto, nasceu a EcoCiclo”.

A publicitária lembra que ela e Adriele foram até uma tornearia mecânica e chegaram a sofrer machismo quando tentavam contratar um homem para construir a máquina de fazer absorventes.

“A gente ia até as lojas, até os torneiros e eles esperavam qualquer coisa, menos que nós estávamos indo contratar um serviço. Então, eles mal levantavam das cadeiras ou perguntavam se a gente estava procurando algum parente ou se a gente estava perdida, mas jamais de que a gente queria contratar o serviço deles”, lembrou.

“Agora imagine duas mulheres indo no torneiro mecânico, com um absorvente na mão e com a máquina para fazer o absorvente. Eles já olhavam assim e falavam esse eu não faço”.

Hellen também lembra que o grupo já ficou constrangido em rodadas de mentorias, quando outros empreendedores procuravam sinônimos para a palavra menstruação.

“Principalmente pelo fato de a gente estar lidando com menstruação. Já teve rodadas de mentorias com outros empreendedores, outros homens da área de negócios, que não conseguiam falar a palavra menstruação e que ficavam gaguejando e procuravam outro apelido, às vezes outros meios, para não ter que falar a palavra menstruação”.