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População mais pobre sofre mais com a crise hídrica e com os efeitos da mudança climática

 

No painel internacional ‘Diálogos Futuro Sustentável’, especialistas discutem justiça climática, crise hídrica e os reflexos da desigualdade em um cenário de escassez

 

A 18ª edição do Diálogos Futuro Sustentável, realizada pelo iCS – Instituto Clima e Sociedade e pela Embaixada da Alemanha, promoveu um painel internacional de debate sobre o tema “Justiça climática e crise hídrica: reflexos da desigualdade em um cenário de escassez”.  

Com abertura de Ana Toni, diretora executiva do iCS, e de Heiko Thoms, embaixador da Alemanha no Brasil, o evento reuniu virtualmente Theresa Williamson, editora da Rio on Watch (instituição social dedicada a documentar a visão dos moradores das favelas sobre e para políticas públicas), Luana de Brito, representante da Rede de Mulheres Negras para Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (RedeSSAN), e o alemão Sebastian Helgenberger, líder de pesquisa do Institute for Advanced Sustainability Studies – IASS Potsdam. A mediação foi de Amanda Ohara, consultora do portfólio de Energia do iCS.

Eles abordaram, respectivamente, o aumento do preço e a insegurança no fornecimento da energia elétrica a partir de aspectos de renda, raça, territórios e gênero; as perspectivas da segurança alimentar frente à crise; e as duas frentes de ação da Alemanha no que tange à injustiça climática: suporte financeiro e logístico a iniciativas globais em favor do desenvolvimento sustentável e o robusto programa de transição de sua matriz energética rumo a fontes renováveis. 

DESTAQUES

ANA TONI

A pior crise hídrica no país em 90 anos é evidência explícita da mudança climática e traz impactos significativos especialmente na economia brasileira, devido à natureza de nossa matriz energética, 60% dependente de hidrelétricas. 

A reação é sempre em cadeia e nossa antiga conhecida: energia mais cara, combustível mais caro, alimento mais caro. A parcela mais pobre da população é a que mais sofre. Isso afeta de forma desproporcional indivÍduos e grupos que são marginalizados devido à desigualdade social.

Os impactos das mudanças no clima são um problema global, que afeta a todos. O problema atinge de forma desproporcional indivíduos e grupos que já estão sujeitos a várias formas de discriminação e que já são marginalizados por desigualdades estruturais.

EMBAIXADOR HEIKO THOMS

O relatório atual do IPCC (Painel intergovernamental sobre mudança do Clima) mostra que o aquecimento global está avançando especialmente na região central do Brasil, onde pode evoluir de forma pior do que a média global. 

As mudanças climáticas são também um desafio social. Podem intensificar gravemente problemas já existentes e a desigualdade social, bem como aguçar conflitos entre as pessoas. O problema afeta sobretudo aqueles que já vivem nas condições mais difíceis, e que são as pessoas que menos contribuiram para o surgimento das mudanças climáticas. 

THERESA WILLIAMSON

Vivemos um sistema estruturado para manter um sistema de escravidao até hoje. O quadro de representação precisa mudar: somos um país majoritamente negro, mas com pouca representitividade. Mas a sociedade civil vai se organizar cada vez mais, estamos empoderados por termos conseguido sobreviver à pandemia.

LUANA DE BRITO

Há um descolamento das prioridades de quem está vivendo as dificuldades e de quem está com a caneta definindo as políticas públicas. Não podemos falar de justiça climática se não há justiça social. A fome mata e a fome tem cor: é a população preta e pobre que está morrendo. Precisamos descolonizar o sistema com urgência para garantir que nossas gerações futuras tenham o mínimo de verde para ver e respirar. 

SEBASTIAN HELGENBERGER

Não há combate à mudança climática sem combate às desigualdades sociais. A justica climática e a justiça social dependem da mudança de mentalidade e isso significa que os governos precisam fazer mais. Precisamos pensar em como a igualdade climática pode fomentar a justiça e precisamos empoderar as comunidades. Acredito, sim, que teremos um futuro mais auspicioso.

BIOS PALESTRANTES:

Theresa Williamson | RioOnWatch

Bacharel em Antropologia Biológica pelo Swarthmore College e Ph.D. em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade da Pensilvânia. Fundadora e diretora-executiva da Comunidades Catalisadoras (ComCat), uma ONG que trabalha desde 2000 desenvolvendo redes, capacitação, comunicação e advocacy em apoio às favelas do Rio. Coordenadora da Rede Favela Sustentável, Painel Unificador Covid-19 nas Favelas e Projeto Termo Territorial Coletivo. Recebeu o Prêmio Internacional NAHRO John D. Lange por sua contribuição ao debate sobre habitação (2012), e o Prêmio Gill-Chin Lim de Melhor Dissertação sobre Planejamento Internacional (2005).

Luana de Brito | Rede de Mulheres Negras para Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional 

Integrante da Articulação de Organização de Mulheres Negras Brasileiras e membro do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Santa Catarina. Graduanda em Ciências Sociais pela UFSC e integrante do Grupo de Pesquisa sobre Movimentos Sociais da universidade. Integrante do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Sebastian Helgenberger | IASS Potsdam

No IASS, onde ingressou em 2014, Helgenberger lidera um grupo de estudo sobre as oportunidades sociais e econômicas trazidas pelas fontes de energia renováveis. Graduado em Ciências Ambientais, realizou seu mestrado sobre a influência da sustentabilidade em atores da ciência e da sociedade; e doutorado sobre o impacto do aquecimento global nas decisões de investimento de pequenas e médias empresas. Foi coordenador de pesquisa científica no Centro BOKU para Mudança Global e Sustentabilidade; presidiu o Grupo de Trabalho Internacional JPI CLIMATE de financiadores de pesquisa e especialistas em transformação social em face das mudanças climáticas; e coordenou o desenvolvimento organizacional do Centro de Mudanças Climáticas da Áustria. 

 

MODERAÇÃO:

Amanda Ohara | Instituto Clima e Sociedade

Mestre em Planejamento Energético pela COPPE/UFRJ e graduada em engenheira química pela UNICAMP. Atua há 15 anos no setor energético brasileiro. Foi coordenadora técnica do Instituto E + Transição Energética, atuou como coordenadora e consultora na Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) e em funções técnicas e de coordenação na Petrobras. Atualmente, Amanda é consultora do portfólio de Energia do iCS.