A volta às aulas das crianças está prevista para o mês de fevereiro, pouco depois do início da imunização da faixa etária entre cinco e 11 anos. Para Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia, esse retorno é necessário, mas demanda a proteção das crianças.
“Começando as aulas, acaba sendo um risco novo para as crianças. Nós não podemos deixar de levar as crianças para as escolas, elas já foram muito prejudicadas no desenvolvimento delas, e provavelmente esse prejuízo não vai mais conseguir ser revertido. Então elas precisam ir para a escola, mas não é só precisar ir, elas precisam ter toda a segurança possível”, afirmou o médico em entrevista neste domingo (23).
Para ele, esse processo de imunização precisa ser feito o mais rápido possível, considerando que já houve uma demora para o início. “E nós, logicamente com todo esse atraso, estamos perdendo tempo, deixando as crianças terem risco desnecessário. O risco principal é atrasar. Nós precisamos fazer rapidamente a vacinação de todas as crianças”.
Nesse sentido, Otsuka defende o uso da “vacina que estiver à disposição”. Atualmente, a vacina da Pfizer pode ser usada para crianças entre 5 e 11 anos, e a da Coronavac a partir dos 6 anos, para crianças não imunossuprimidas.
“O que a gente observa é que a Coronavac demonstrou nos estudos em torno de 87%, talvez um pouco mais, de proteção para internações e casos graves. A vacina da Pfizer foi em torno de 92%. É uma pequena diferença, não é tão grande assim que vá dizer que não devemos fazer ou devemos fazer outra”, diz.
Ele avalia, ainda, que os dois imunizantes possuem formas de funcionamento diferentes. “A gente sabe que a Coronavac talvez tenha uma resposta melhor na imunidade celular em relação à Pfizer. A Pfizer tem uma produção de anticorpo que é excelente, o que é muito bom, mas quando a gente analisa, basicamente o que a gente analisa é a produção de anticorpo neutralizante, então são análises diferentes e que não são completas”.
“Então o que vale muito e a efetividade na vida real, em países que já tem feito a vacina, como Chile, Estados Unidos, vários países da Europa, Israel, Argentina. O que a gente tem é que a proteção é muito boa com as duas vacinas. Nesse momento, o importante é fazer a vacina. Não importa qual a gente tenha, a resposta imunológica é muito próxima”, diz. Baseado nos dados, Otsuka afirma também que a aprovação para o uso da Coronavac em crianças com mais de três anos “deve caminhar”.
Em relação a possíveis reações à vacina, o médico considera que “os riscos que nós observamos, tanto na Coronavac quanto a Pfizer, são mínimos perto do que a doença provoca. Os dados são de que em 9 milhões de doses aplicadas nos EUA de 5 a 11 anos, ocorreram 11 casos de miocardite, que tiveram uma evolução boa, sem internação e sem risco para as crianças”.
“No Brasil, onde tivemos muito menos casos de infecção pelo coronavírus nessa população pediátrica, nós tivemos vários casos do que chamamos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica, e foram 85 óbitos inclusive, e uma das características dessa síndrome é o comprometimento cardíaco, com miocardite, arritmia e uma série de outros problemas. O coronavírus provoca muito mais doença cardíaca do que a gente imagina, inclusive nas crianças”, afirma.
Outro fator que aumenta a importância de acelerar a vacinação das crianças é a disseminação da variante Ômicron. “O número de crianças internadas aumentou muito. Hoje no meu hospital tenho 8 crianças internadas e com sistemas graves. Aumentou muito, é um problema sério, porque nós temos muitos casos, e por termos muitos casos é lógico que proporcionalmente teremos mais crianças e mais pessoas não vacinadas internadas”, diz Otsuka.
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