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Na economia, nem Lula nem Bolsonaro darão as cartas

 

Com o resultado da eleição, a disputa saiu de uma quase vitória de Lula no domingo de manhã para uma derrota fragorosa no Congresso e magros 5 pontos de distância de Bolsonaro. Entre mortos e feridos, ficou a ideia de um Lula tendo que ir mais para o centro e um Bolsonaro em busca do eleitorado mais pobre. Mas talvez me preocupo mesmo com os dois nomes em si e mais com outras duas posições que serão essenciais e que, na verdade, darão o tom em cada governo.

Do lado de Lula, o interesse total é no Ministro da Fazenda (supondo como provável que seja desmembrado entre Fazenda e Planejamento). Esse será o nome essencial assim como o foi no primeiro mandato em que Palocci deu o tom na Economia. A esperança de uma ida ao centro de Lula passa essencialmente em o PT diminuir as cartas na economia e economistas do tipo que comandaram as pastas essenciais no primeiro mandato em 2003 apareçam. O sucesso foi tal que Palocci muitas vezes era citado como sucessor de Lula no futuro.

Seria essencial nesse caso, dado que o concorrente é bem mais forte do que era Serra em 2002, apresentar um plano de voo mais detalhado, inclusive com uma blindagem maior além da Fazenda, por exemplo no BNDES e na Caixa. Talvez seja pedir demais, mas o momento delicado para Lula demanda um esforço além do que ele fez até agora. Em 2003, Palocci começou como o homem forte e com o tempo Lula tomou a dianteira, especialmente depois da queda do Ministro, colocando Mantega, mais parecido com o pensamento do presidente. Deu no que deu anos depois. Mas se Lula vai fazer ou não a guinada necessária, teremos que esperar.

No caso de Bolsonaro, o nome relevante é o presidente da Câmara (e também do Senado). Dado que o atual presidente abdicou das prerrogativas de Executivo especialmente depois do 7 de setembro do ano passado, a agenda econômica tem ficado cada vez mais a cargo do Legislativo. Isso já começou a acontecer, na verdade, no governo Temer quando o Congresso já começou a sinalizar mais força com o orçamento impositivo em funcionamento e algumas medidas, como a reforma trabalhista, nascendo dentro da Câmara. Isso só foi se aprofundando e hoje podemos dizer que o Ministro da Economia é Arthur Lira e não Paulo Guedes, que se acomodou por forças políticas em papel secundário. Ano que vem isso vai piorar com um presidente em segundo mandato, naturalmente fraco, e um Congresso à direita fortalecido. Devemos lembrar que quem ganhar a eleição este ano dificilmente será por lavada. Parece mais um 52% a 48% como foi entre Dilma e Aécio em 2014 do que algo mais retumbante.

Sendo Bolsonaro com 52%, reforça a ideia de um presidente que inicia de qualquer forma enfraquecido e já o pensamento em 2026 começando a aparecer.

Ainda sobre Bolsonaro, terá ele condições de entregar a casa como Lula entregou a Dilma em 2010 e fazer um sucessor como ele fez? Está mais do que distante, é claro, mas as condições econômicas para isso estão muito longe para que isso aconteça. Lula chegou como chegou em 2010 por um misto de boas reformas que foram feitas no
passado com uma cavalar política fiscal feita durante seu mandato, algo que Bolsonaro não terá espaço para fazer. Além disso, sem a preocupação com a questão ambiental, seguiremos párias nessa área e perdendo investimentos externos que poderiam aportar aqui, diferente dos anos Lula. Esse Bolsonaro enfraquecido ao longo do mandato dá ainda mais peso para os presidentes das casas legislativas.

Vale dizer que por causa do orçamento secreto e dos demais dispositivos disponíveis aos congressistas, será essencial que o parlamento consiga entregar um resultado econômico digno de nota. A visão da sociedade em relação a eles em nada melhorou nos últimos anos segundo as pesquisas e um resultado econômico que seja visto como relevante com papel do Congresso seria de enorme interesse para eles. Lira já tem sinalizado, por exemplo, em avançar com as reformas tributárias e administrativas, por mais que o momento seja inadequado e sem clareza do que será de fato levado à aprovação.

Talvez nunca tivemos dois concorrentes em que os nomes mais importantes que queremos saber em cada governo não sejam os próprios candidatos. Sinal de um enfraquecimento contínuo do regime presidencial? A ver nos próximos anos.

 

//CNN Brasil