Um relatório da Organização Mundial da Saúde, OMS, revela que 5 bilhões de pessoas, em todo o mundo, ainda permanecem desprotegidas da gordura trans, aumentando o risco de doenças cardíacas e morte.
Em 2018, a agência pediu, pela primeira vez, a eliminação global da gordura trans produzida industrialmente, com uma meta definida para este ano.
Bolos, biscoitos e alimentos processados
O relatório Contagem regressiva para 2023 é uma atualização anual publicada pela OMS.
Esse tipo de gordura pode ser encontrado em bolos, biscoitos, alimentos processados e óleos de cozinha. O consumo é responsável por até 500 mil mortes prematuras por doenças do coração a cada ano em todo o mundo.
A nutricionista Fabiane Alheira falou à ONU News sobre a diferença entre gordura trans e gordura saturada e como elas afetam a saúde:
“A gente conhece três tipos de gordura saturada, que é uma gordura sólida, de origem animal. Nós temos a gordura insaturada, que ela é líquida, de origem vegetal, e nós temos a gordura trans, que é uma gordura que não existe no meio ambiente. É uma gordura que foi desenvolvida pelo ser humano através do processo químico que a gente chama de hidrogenação.”
De acordo o relatório da OMS, a criação de políticas de melhores práticas para a população aumentou quase seis vezes, com a implementação em 43 países, e ajudando a proteger 2,8 bilhões de pessoas em todo o globo. Mas apesar dos avanços, a meta global da eliminação total permanece inatingível neste momento.
Brasil, Portugal e Cabo Verde
Dos países de língua portuguesa, Brasil e Portugal implementaram essas políticas. Na África, Cabo Verde têm medidas complementares, um limite obrigatório de gordura trans produzida industrialmente em alimentos em ambientes específicos.
Atualmente, nove dos 16 países com a maior proporção estimada de mortes por doenças coronarianas causadas pela ingestão de gordura trans não possuem uma política de melhores práticas: Austrália, Azerbaijão, Butão, Equador, Egito, Irã, Nepal, Paquistão e Coreia do Sul.
A nutricionista lembra que as pessoas podem comprar um produto achando que não tem gordura trans, mas, na verdade a informação pode estar escondida. Ela explica que, em alguns países, a legislação permite escrever zero na tabela nutricional, mesmo que tenha uma quantidade mínima de gordura hidrogenada por porção.
“Existe um marketing muito grande. Muitas vezes a gente vê um alimento e no rótulo desse alimento zero gordura trans. Mas aí, quando a gente vai olhar na lista de ingredientes, e é por isso que eu sempre bato nessa tecla de que a gente precisa entender a lista de ingredientes, quando a gente vai ler, está escrito gordura vegetal. Ué, mas a gordura vegetal não deveria ser óleo vegetal? Sim. Então, se existe a expressão gordura vegetal, você já desconfia que, bem possivelmente, aquele óleo passou por um processo de hidrogenação e se transformou numa gordura trans.”
Quando maior a renda, mais medidas são adotadas
Embora a maioria das políticas de eliminação até o momento tenha sido implementada em países de renda alta, principalmente nas Américas e na Europa, um número crescente de nações de renda média está implementando ou adotando essas políticas.
Entre eles: Argentina, Bangladesh, Índia, Paraguai, Filipinas e Ucrânia. Políticas de melhores práticas também estão sendo consideradas em países como México, Nigéria e Sri Lanka este ano.
Nenhum país de baixa renda adotou medidas para eliminar a gordura trans. Se aprovada, a Nigéria seria o segundo e mais populoso da África a implementar uma política de práticas recomendadas de eliminação de gordura trans.
O diretor-geral da OMS disse que a gordura trans não tem nenhum benefício conhecido e enormes riscos à saúde que acarretam enormes custos para os sistemas de saúde”. Para Tedros Ghebreyesus, ela é um produto químico tóxico que mata e não deve estar nos alimentos.
Critérios para melhores práticas
A OMS estabeleceu critérios específicos para eliminação, que limitam a gordura trans produzida industrialmente em todos os ambientes.
Uma alternativa de políticas de melhores práticas é o limite nacional obrigatório de 2 gramas de gordura trans produzida industrialmente por 100 gramas de gordura total em todos os alimentos.
A segunda é uma proibição nacional da produção ou uso de óleos parcialmente hidrogenados, uma importante fonte de gordura trans, como ingrediente em todos os alimentos.
Recomendações da OMS
Em 2023, a OMS recomenda que os países se concentrem nessas quatro áreas: adoção de políticas de melhores práticas, monitoramento e vigilância, substituições saudáveis de óleo e sensibilização.
A orientação da OMS foi desenvolvida para ajudar os países a fazer avanços rápidos nessas áreas.
A agência da ONU também incentiva os fabricantes de alimentos a eliminarem de seus produtos a gordura trans produzida industrialmente, de acordo com o compromisso assumido pela International Food and Beverage Alliance, Ifba.
O pedido para os principais fornecedores de óleos e gorduras é que removam a gordura trans produzida industrialmente dos produtos vendidos a fabricantes de alimentos em todo o mundo.
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