Toda uma geração de internautas aborda os mecanismos de busca da mesma forma há décadas: digitamos algumas palavras em uma caixa de busca e aguardamos por uma página de resultados relevantes. Mas isso pode mudar em breve.
Esta semana, as empresas por trás dos dois maiores mecanismos de busca dos Estados Unidos provocaram mudanças radicais na forma como seus serviços operam, impulsionados por uma nova tecnologia de inteligência artificial que permite respostas mais complexas e conversacionais.
Na terça-feira (7), a Microsoft anunciou uma reformulação no mecanismo de buscas Bing, usando as habilidades do ChatGPT, a ferramenta viral de inteligência artificial criada pela OpenAI, uma empresa na qual a Microsoft recentemente investiu bilhões de dólares. O Bing não apenas fornecerá uma lista de resultados de pesquisa, mas também responderá a perguntas, conversará com os usuários e gerará conteúdo em resposta às consultas dos usuários.
No dia seguinte, o Google, o player dominante no mercado, realizou um evento para detalhar como planeja usar tecnologia de inteligência artificial semelhante para permitir que seu mecanismo de busca ofereça respostas mais complexas e conversacionais às consultas, incluindo o fornecimento de marcadores com os melhores momentos do ano para ver várias constelações e também oferecer prós e contras para comprar um veículo elétrico.
A gigante de tecnologia chinesa, Baidu, também disse esta semana que lançaria seu próprio serviço no estilo ChatGPT, embora não tenha fornecido detalhes sobre se isso aparecerá como um recurso em seu mecanismo de busca.
As atualizações vêm com o sucesso do ChatGPT, da OpenAI, que pode gerar redações e respostas surpreendentemente convincentes às solicitações do usuário, provocando uma onda de interesse em ferramentas de chatbot de inteligência artificial.
Várias gigantes da tecnologia agora estão correndo para implantar ferramentas semelhantes que podem transformar a maneira como redigimos e-mails, textos e lidamos com outras tarefas. Mas o impacto mais imediato pode estar em um elemento fundamental de nossa experiência na internet: a pesquisa.
“Embora estejamos há 25 anos com sites de pesquisa, ouso dizer que nossa história apenas começou”, disse Prabhakar Raghavan, vice-presidente sênior do Google, no evento na quarta-feira (8), provocando os novos recursos de inteligência artificial.
“Temos inovações ainda mais empolgantes habilitadas por inteligência artificial em andamento que mudarão a maneira como as pessoas pesquisam, trabalham e se divertem. Estamos reinventando o que significa pesquisar e o melhor ainda está por vir”.
Para aqueles que não sabem exatamente o que fazer com as novas ferramentas, as empresas ofereceram alguns exemplos, desde escrever um poema rimado até ajudar a planejar o itinerário de uma viagem.
Lian Jye Su, diretor de pesquisa da empresa de inteligência tecnológica ABI Research, acredita que consumidores e empresas ficariam felizes em adotar uma nova maneira de pesquisar, desde que “ela seja intuitiva, remova mais atrito e ofereça o caminho de menor resistência – semelhante ao sucesso de assistentes de voz domésticos inteligentes, como a Alexa e o Google Assistant”.
Mas há pelo menos um curinga: o quanto os usuários poderão confiar nos resultados obtidos pela inteligência artificial.
Uma nova experiência de pesquisa e novos problemas
De acordo com o Google, o Bard pode ser usado para planejar o chá de bebê de uma amiga, comparar dois filmes indicados ao Oscar ou obter ideias para o almoço com base no que você tem na sua geladeira.
Mas a ferramenta, que ainda não foi lançada ao público, já está sendo denunciada por um erro factual que cometeu durante uma demonstração do Google: afirmou incorretamente que o Telescópio James Webb tirou as primeiras fotos de um planeta fora do nosso sistema solar. Um porta-voz do Google disse que o erro “destaca a importância de um processo de teste rigoroso”.
O Bard e o ChatGPT, que foi lançado publicamente no final de novembro pela OpenAI, são construídos em grandes modelos de linguagem. Esses modelos são treinados em vastos tesouros de dados online para gerar respostas convincentes aos prompts do usuário.
Especialistas alertam que essas ferramentas podem não ser confiáveis – espalhando desinformação, inventando respostas e dando respostas diferentes para as mesmas perguntas ou apresentando preconceitos sexistas e racistas.
Há claramente um forte interesse neste tipo de inteligência artificial. A versão pública do ChatGPT atraiu 1 milhão de usuários em seus primeiros cinco dias após o lançamento e estima-se que tenha atingido 100 milhões de usuários desde então. Mas o fator confiança pode decidir se esse interesse permanecerá, de acordo com Jason Wong, analista da Gartner, uma empresa de pesquisa de mercado.
“Os consumidores, e até mesmo os usuários corporativos, podem se divertir explorando as novas interfaces do Bing e do Bard por um tempo, mas à medida que a novidade desaparece e ferramentas semelhantes aparecem, tudo se resume à facilidade de acesso, precisão e confiança nas respostas, isso é o que vai vencer”, disse.
Os sistemas generativos de inteligência artificial, que são algoritmos que podem criar novos conteúdos, são notoriamente pouco confiáveis. Laura Edelson, cientista da computação e pesquisadora de desinformação da Universidade de Nova York, disse: “há uma grande diferença entre uma inteligência artificial que parece confiável e que realmente produz resultados precisos”.
Enquanto a busca geral otimiza para relevância, de acordo com Edelson, grandes modelos de linguagem tentam alcançar um estilo particular em sua resposta sem levar em consideração a precisão factual. “Um desses estilos é: ‘Sou uma fonte fidedigna, confiável’”, disse ela.
Em um nível muito básico, disse ela, os sistemas de inteligência artificial analisam quais palavras estão próximas umas das outras, determinam como elas se associam e identificam os padrões que as levam a aparecer juntas. Mas grande parte do ônus permanece no usuário para verificar as respostas, um processo que pode ser tão demorado para as pessoas quanto o modelo atual de rolagem de links em uma página – se não até mais.
Os executivos da Microsoft e do Google reconheceram alguns dos possíveis problemas com as novas ferramentas de inteligência artificial.
“Sabemos que não seremos capazes de responder a todas as perguntas todas as vezes”, disse Yusuf Mehdi, vice-presidente e diretor de marketing do consumidor da Microsoft. “Também sabemos que cometeremos nossa parcela de erros, por isso adicionamos um botão de feedback rápido no topo de cada pesquisa, para que você possa nos dar feedback e aprendermos”.
Raghavan, do Google, também enfatizou a importância do feedback de testes internos e externos para garantir que a ferramenta “atenda à nossa barra alta de qualidade, segurança e fundamentação, antes de lançarmos de forma mais ampla”.
Mas mesmo com as preocupações, as empresas apostam que essas ferramentas oferecem a resposta para o futuro da busca.
//CNN Brasil