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Fala Pescador: Pescadora das águas doces, Deca aos 88 anos compartilha suas histórias

 

O Fala Pescador desta semana teve a feliz oportunidade de conversar com a dona Deca, nascida e criada na beira das águas doces de Mucuri.

Deca vive hoje seus 88 anos com uma lucidez invejável e uma saúde física absurda, além dos saberes da terra e das ervas que a sábia senhora carrega consigo. Ela nasceu na roça da Jacutinga, atualmente bairro do Beira rio, conta que nunca saiu das terras mucurienses para morar, sendo aqui a sua casa.

Quando ainda criança, Deca aprendeu a pescar nas águas do rio Mucuri, onde foi criada e desde então viveu a sua vida, se casou, teve filhos e criou todos do sustento vindo da pesca.

A pescadora explica que Mucuri mudou exponencialmente nas últimas décadas, pois quando era criança e jovem a convivência com as comunidades indígenas era constante e cotidiana, além do fato de que vinha dessa vasta cultura as festas que animavam a cidade.

“Mucuri era muito diferente Beto [repórter], aqui nós tínhamos muitas festas da igreja, procissões e festejos dos índios, foi uma época muito boa e muito diferente também, porque por outro lado, Mucuri não tinha acesso, não dava pra entrar e sair da cidade com facilidade, aqui era mata fechada” aponta.

Nas memórias acessadas, a mesma explica que Mucuri já foi um povoado e não existia tanta coisa, até mesmo em relação a violência que tem hoje, antigamente não se falava nisso.

A falta de acesso a muitas coisas, fortalecia a cultura da pesca, pois era a única forma que a população tinha de levar o alimento para dentro de casa, seja através da pesca de fato para as refeições ou para a comercialização.

“Pra vocês terem uma ideia, antigamente a gente pegava os cavalos e íamos pra Nanuque fazer feira, os mais velhos cortavam as matas de Argolo e saiam lá em Nanuque, que era onde o povo podia comprar e vender alimento, geralmente a gente demorar cerca de seis horas pra ir e seis horas pra voltar”.

Os anos se passarem e dona Deca, foi vendo de perto toda mudança que Mucuri sofreu, a mesma conta que foi o prefeito Olly Koch que trouxe o tão falado “progresso”, pois foi o responsável por abrir as estradas que davam acesso a outros lugares e tirou assim Mucuri desse lugar remoto.

“Eu sou de um tempo em que os Coronéis eram prefeitos, não tinha toda essa coisa com política e eles não ganhavam dinheiro pra gerir a cidade também, mas foi quando Olly ganhou a prefeitura, que ele colocou “Mucuri no mundo”, antes disso a gente vivia isolado aqui”, conta com empolgação.

Além disso, dona Deca é uma mulher que devido os longos anos de estrada, pode aprender muito com as mais velhas sobre os saberes da terra e os mistérios das plantas, ao contar sobre as brincadeiras (nome que dá para as festas), Deca conta que a diversão não era exatamente beber, mas que sempre bebeu a chamada “misturada”, que era basicamente a cachaça com ervas como arruda, cravo, entre outros, que ajudava em diferentes propósitos.

“Antigamente a gente bebia misturada, pegava as ervas e fazia e aquilo ajudava pra tudo, principalmente na hora do parto e para as mulheres já paridas! Era o que nos ensinava as parteiras antigas e foi assim que a gente sempre se cuidou”, conta Deca com saudosismo.

Histórias ricas como as de dona Deca, são daquelas que dariam um livro facilmente. Uma mulher originária da terra, que carrega consigo grandes e valiosos saberes sobre a terra e sobre as águas sagradas que banham a região. Deca é um patrimônio cultural para Mucuri e por esse motivo, o quadro Fala Pescador, se faz fundamental.

Agradecemos a Deca e sua família por sua disponibilidade e carinho com a equipe Onda Verde.

 

//Redação Onda Verde
Repórter Beto Ramos