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Fala Pescador: Luísa, catadora e comerciante de caranguejo compartilha um pouco de sua trajetória

 

O quadro semanal Fala Pescador, retorna para contar a história de uma catadora de caranguejo que se tornou referência no município de Mucuri, por exercer seu trabalho com tamanha excelência.

Luísa, mãe de nove filhos, sendo oito vivos, filha de Mucuri, é uma mulher batalhadora que pode criar e educar seus filhos com valores fundamentais através do seu ofício de catadora de caranguejo. Ela que é de linhagem indígena como conta, filha direta de uma mulher originária, sua família desde sempre teve contato e adoração as águas.

Ao contar sua história ela explica que logo cedo, ainda criança, passava o dia brincando nos rios e mar, sendo o passatempo e lazer da família, mas foi aos vinte anos que iniciou sua jornada como catadora. Devido as poucas oportunidades de trabalho que a cidade oferecia em sua juventude, problema que se arrasta até hoje, como enfatiza, ela recorreu ao mangue para tirar seu sustento.

“Eu amo esse lugar, mas Mucuri sempre teve isso, aqui a gente não encontra trabalho para ninguém, é difícil, então bem nova eu já tinha que pensar formas de ganhar dinheiro e foi assim que aprendi a catar caranguejo no mangue e sou muito grata, graças a Deus”.

Dona Luísa se casou, jovem, com outro catador de caranguejo, seu Eugênio, e juntos eles se tornaram referência na compra e venda do crustáceo. A excelência do casal foi tamanha que grande parte dos filhos quiserem seguir a profissão dos pais, exemplo que tem se tornado cada vez mais escasso.

Ao ser questionada o motivo de sua família ter ficado conhecida no município pela profissão, Luísa conta que a razão se deu pelo fato de sempre ter a caça para oferecer a seus clientes e que isso fez a diferença com o passar dos anos.

“Nós sempre temos caranguejo, porque além de irmos nós mesmos catar, também compramos para revender, então geralmente tanto os clientes como os próprios catadores nos indicam e a fama foi passando de boca em boca, sabe?! Fora que o nosso trabalho é sustentável, respeitamos os períodos de defeso e a caça segura” explica.

Ao longo dos anos à cata de caranguejo passou por diferentes momentos de altos e baixos, biólogos e especialistas explicam que muito se deve pela forma nociva de caçar, onde muitos retiravam as fêmeas (proibido por lei), caçavam em períodos de reprodução, ou até mesmo os que retiravam apenas a poã, as patas do crustáceo, e devolviam os animais para o mangue prejudicando os ciclos de vida e reprodução da espécie.

Ela explica então que esse é um sério problema que o município enfrente desde os tempos da sua juventude e denuncia a violação atualmente, afirmando que infelizmente ainda tem pessoas que fazem isso de maneira ilegal, colocando a vida do mangue em risco.

“Eu conheço muitas pessoas, que não convém citar, que ainda tem atitudes como essas, mesmo com as inúmeras campanhas de conscientização. Sou totalmente contra esse tipo de atitude que coloca a vida do nosso mangue e sustento em risco, principalmente por ser muita maldade com os bichos! Pense que é como se eu arrancasse seus dedos ou sua mão e te jogasse na rua para viver a vida normalmente, é algo inadmissível”, afirma com indignação.

Não é à toa que a família de dona Luísa e seu Eugênio se tornou referencia e inspiração no município de Mucuri, eles são exemplos por viver da profissão respeitando os ciclos da natureza e da preservação da vida no mangue.

“Eu sou muito grata a Deus por viver assim, nunca fiz nada contra a vida, criei os meus filhos ensinando valores de honestidade e trabalho duro. Hoje vou ao mangue ver com meus netos e bisnetos, não trabalho catando [caranguejo], mas estou sempre por lá saudando esse território sagrado”.

Histórias como a de Luísa e sua família reafirma a importância de valorizar a vida e o trabalho dos filhos dessa terra, que vivem do mar e respeitam a biodiversidade presente na região.

 

//Reportagem Beto Ramos
Redação Onda Verde.