A picanha está mais barata. Bem como o filé mignon, a alcatra, o contrafilé e essencialmente todos os outros tipos de carnes vendidos nos supermercados e açougues, incluindo, ainda, as opções de frango e de porco.
É o que confirmam os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação do país: em 2023, o preço médio das carnes já caiu 5,9%.
O da carne de porco caiu 2,4% e, do frango, 5,8%.
Sonho de consumo do churrasco brasileiro, a picanha está 6,5% mais barata. A alcatra e o filé mignon caíram 8%, e todos os outros 14 cortes bovinos que são acompanhados mensalmente pelo IPCA também tiveram alguma redução de preço desde o começo deste ano.
Os números levam em consideração as variações acumuladas de janeiro até junho do IPCA.
Por trás das fortes deflações, está a crise: o brasileiro reduziu a compra das carnes vermelhas nos últimos anos, depois que o preço delas entrou em disparada com os diversos choques da pandemia.
A disposição menor por comprar carnes, por sua vez, encontrou os produtores com os rebanhos em expansão, resultado da corrida de investimentos em reprodução que eles fizeram nesses anos, justamente, por conta dos bons preços da carne no mercado.
“A preferência do brasileiro é pela carne bovina, mas, se ele não tem renda, ele não compra”, explica Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq, escola de agricultura da Universidade de São Paulo (USP).
“Então o consumo dela veio caindo desde 2021 e de 2022, devido aos preços muito altos. A China também está pagando menos, porque a crise foi em todo o mundo. Os frigoríficos estão pagando menos. E a produção cresceu. Então tem muita oferta, e os produtores ainda estão fazendo muita promoção.”
Pico e queda em 2022
A queda nos preços das carnes, de acordo com Carvalho, já vem acontecendo, no campo, desde o começo do ano passado, quando os altos valores começaram a pesar no bolso do consumidor e as vendas começaram a cair.
Ainda assim, o preço continua bastante acima do que custava antes da pandemia.
O preço médio da carne do boi, de acordo com o Cepea, está em R$ 17,28 por quilo, considerada a cotação do boi casado, expressão usada para quando os criadores vendem juntas para os frigoríficos as carnes traseiras, de primeira e mais caras, e dianteiras, de segunda e mais baratas.
É 20% menos do que o maior preço a que a carne bovina chegou, marcado em março do ano passado: R$ 21,71 por quilo.
Esse valor vem caindo desde então, completando mais de um ano de quedas sucessivas.
Segue, porém, ainda bem mais alto do que custava em janeiro de 2020, último mês completo que o Brasil viveu antes da chegada do coronavírus ao país.
Naquele mês, o quilo casado da carne estava em R$ 13,40. O valor atual (R$ 17,28/quilo), mesmo com as fortes reduções recentes, está ainda 30% acima do que custava no pré-pandemia.
Mais barato, mas não tanto
No varejo, onde é normal que as mudanças de preço cheguem com alguma defasagem em relação ao que está acontecendo nas fazendas e nas fábricas, a história é pouco diferente.
O preço da picanha, que está caindo 6,5% em 2023, ainda está longe de compensar a alta que acumulou desde o começo da pandemia: o aumento do preço nos supermercados foi de 38% entre 2020 e 2022, conforme os dados do IPCA.
O músculo, que neste ano cai 4,3%, subiu 42% até 2022, e, o acém, 6% mais barato desde janeiro, tinha ficado 43% mais caro até o ano passado.
Mais barato que as carnes vermelhas e uma das primeiras opções de proteína a que o brasileiro recorre quando não consegue mais comprar os bifes bovinos, o frango foi o campeão da pandemia: o preço dele subiu 51% de 2020 a 2022.
“Quando o preço da carne bovina sobe muito, o brasileiro vai procurar outras proteínas mais baratas, como a suína, o frango e até o ovo”, diz Carvalho, do Cepea.
“Isso faz com que a procura por eles cresça, e os preços também.”
De todas as proteínas, o ovo é a única que segue subindo em 2023, indicando que, enquanto a procura pelas carnes ainda está fraca, a do ovo segue aquecia: o preço do produto sobe 16,6% no primeiro semestre deste ano.
//CNN Brasil