Indígenas do sul e extremo sul da Bahia fecham aldeias para diminuir casos de Covid-19 ; Dois morreram por causa da doença
Regiões concentram maior número de indígenas de todo estado. Cento e dezenove índios nas localidades já testaram positivo para coronavírus.
Redação FM News
Algumas aldeias indígenas que ficam no sul e extremo sul da Bahia estão fechadas como medida para conter o avanço do novo coronavírus. Na maioria das localidades, a presença de visitantes está suspensa e só é permitido a entrada de indígenas com máscaras.
“Temos aldeias como Mirapé, Nova Coroa, Itaporaroca, Juerana, que os caciques optaram por fechar, para evitar entrada de pessoas de fora e controlar a doença. As aldeias que fizeram o fechamento, os casos diminuíram e a comunidade tem se sentido mais seguir com essa forma de se proteger”, contou a liderança indígena Ubiraí Pataxó.
Dados divulgados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) apontam que 90% dos indígenas com Covid-19 na Bahia moram nas cidades do sul e extremo sul, regiões que concentram as maiores populações de índios de todo o estado. Segundo informações do DSEI, em toda a Bahia, 119 indígenas foram confirmados com o novo coronavírus. Dois morreram.
Em Coroa Vermelha, maior aldeia urbana do país, que fica em Santa Cruz Cabrália, extremo sul da Bahia, 58 índios já tiveram Covid-19, mas desses, 31 estão curados. A aldeia também registrou a morte do idoso Valmir Nunes, de 68 anos, que precisou ser entubado e não resistiu.
“Nós sentimos muito, foi o primeiro indígena do extremo sul que veio a óbito, ficamos muito preocupados com isso, porque além dele teve um Tubinambá em Ilhéus. Esse vírus alastra muito rápido e nossa comunidade ainda está vulnerável”, disse o cacique da aldeia de Coroa Vermelha, Zeca Pataxó.
O indígena Timbira Pataxó foi diagnosticado com a Covid-19 e precisou ficar internado por uma semana na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Baianão, em Porto Seguro. Após o período, ele foi transferido para a UPA do distrito de Arraial D’Ajuda, onde ficou por alguns dias. Agora, ele já está recuperado da doença.
“Muita falta de ar, dor, fiquei internado sete dias na UPA do Baianão e depois na UPA do Arraial. Eu, meu irmão e meu pai ficamos internados. Meu pai teve 70% do pulmão manchado”, disse o indígena.
A coordenadora do Distrito Sanitário da Saúde na Bahia, Luzia Pataxó, informou que quando um indígena apresenta sintomas da doença, o primeiro atendimento é feito nos postos de saúde dos municípios e se o caso for agravado é encaminhado para regulação do estado.
“Quando é identificado equipe com sintomas, a equipe vai na casa da família, faz o rastreamento dos contatos e faz os testes”.
Recentemente, as equipes da Secretaria Especial de Saúde Indígena que dão apoio aos índios, recebeu medicamentos, equipamentos e EPI’s do Ministério da Saúde para fazerem o bloqueio de casos da doença com segurança.
“A equipe está atuante e, comparando com outras regiões, nos sentimos aliviados, porque está ‘controlado’ o coronavírus nas aldeias da Bahia. Aumentaram duas equipes, e elas estão aqui na região pra ajudar na prevenção”, disse Luzia.
Por causa da pandemia, o turismo na região foi suspenso e muito indígenas que viviam da venda de comidas e artesanato aos visitantes ficaram sem renda.
O artesão Ubiratan Pataxó teve a ideia de lançar a campanha “Syratã Matxó”, que significa “Jesus Abençoe” na internet. A ação, que contou com apoio de artistas como Christiane Torloni e Lázaro Ramos, já arrecadou cestas básicas e máscaras caseiras que beneficiaram centenas de famílias que vivem na aldeia.
“A gente vem buscando recursos no Brasil e exterior, já temos 500 famílias que receberam cestas básicas e 2.700 máscaras já chegaram. Estamos beneficiando indígenas e não indígenas, pois a fome não espera”, contou Ubiratan.
Projeto sancionado com vetos
O presidente Jair Bolsonaro sancionou, com vetos, a lei com medidas de proteção a povos indígenas durante a pandemia do novo coronavírus.
O texto, publicado na madrugada do dia 8 de julho, no “Diário Oficial da União (DOU)”, determina que os povos indígenas, as comunidades quilombolas e demais povos tradicionais sejam considerados “grupos em situação de extrema vulnerabilidade” e, por isso, de alto risco para emergências de saúde pública.
No entanto, o presidente fez vetou que o governo seja obrigado a fornecer aos povos indígenas “acesso a água potável” e “distribuição gratuita de materiais de higiene, limpeza e de desinfecção para as aldeias”; que o governo execute ações para garantir aos povos indígenas e quilombolas “a oferta emergencial de leitos hospitalares e de terapia intensiva” e que a União seja obrigada a comprar “ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea”; obrigatoriedade de liberação pela União de verba emergencial para a saúde indígena; instalação de internet nas aldeias e distribuição de cestas básicas; que o governo seja obrigado a facilitar aos indígenas e quilombolas o acesso ao auxílio emergencial.