O Caryocar brasiliense, popularmente conhecido como pequi, fruta nativa do cerrado brasileiro, é muito utilizado na culinária sertaneja. Dele também é extraído um óleo, chamado azeite de pequi, com propriedade medicinal para o tratamento de infecções brônquio respiratórias em crianças. O que poucos sabem é que esse mesmo óleo tem se tornado um grande aliado entre os malhadores para ajudar na recuperação muscular.
Desde de 1998, o óleo de pequi é objeto de estudo da Universidade de Brasília (UnB). As primeiras pesquisas foram desenvolvidos em animais de laboratório, aprovados pelo Comitê de Ética do Uso Animal. “Posteriormente, selecionamos um grupo de voluntários que praticava corrida de rua e maratona — devido ao grande desgaste físico desse esporte. Em todos os casos, conseguimos demonstrar propriedades fitoterápicas e nutracêuticas (alimento com ação de medicamento) do óleo de pequi”, explica o pós-doutor em ecotoxicologia, pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas e coordenador do Laboratório de Genética da UnB, César Koppe Grisólia.
Mais de 15 artigos científicos foram publicados desde então. “E ainda estamos com parcerias nos laboratórios da Universidade de São Paulo (USP), com outros viés de estudos”, completa César. O jornalista Virgílio Ribeiro, 39 anos, é um dos beneficiados por esses estudos.
Corredor de rua há nove anos, ele usa, com indicação de nutricionista, o óleo de pequi em cápsulas, desde agosto de 2017, para complementar e auxiliar nas atividades físicas. “Percebi mudanças no meu organismo, minhas dores musculares diminuíram. Sou amante do óleo e sempre sugiro o uso para pessoas próximas, mas sempre com recomendação nutricional.”
Os estudos comprovam que o óleo de pequi traz diversos benefícios para o organismo. “Proteção cardiovascular, menos inflamação muscular, redução de danos no DNA das células, menos estresse oxidativo (quando a prática de exercícios físicos é de longa duração e intensidade), prevenção de doenças degenerativas e auxílio na redução de pressão arterial são algumas das vantagens elencadas na pesquisa”, ressalta César.
O pequi é um excelente ingrediente na culinária, mas nem todos o apreciam, seja pelo sabor, seja pelo aroma marcante. “O uso das cápsulas favorece aqueles que não gostam do sabor da fruta. Qualquer indivíduo pode ingerir diariamente o óleo de pequi. O indicado é consumir duas cápsulas de 400mg ao dia, porém é importante saber que o uso de todos os fitoterápicos deve ser moderado”, ensina César.
Ousadia
A cantora e funcionária pública Maria Luisa Sousa, 40, ouviu falar sobre o óleo de pequi em cápsulas e decidiu tomar por vontade própria. O motivo foi para prevenir doenças cardiovasculares, já que há casos da enfermidade na família materna, e para se livrar das dores musculares após a prática de musculação, pilates e ciclismo. “Minha experiência foi há cinco meses. Desde então, nunca mais parei de comprar e usar. Minhas dores musculares diminuíram, meu intestino ficou mais regular e até me arrisco a dizer que me sinto mais disposta em tudo na vida.”
Segundo Michelle Mendes, nutricionista funcional e oncologista da Aliança Instituto de Oncologia, o fruto do pequi é rico em vitaminas, minerais, carotenoides, ômega 9 e ácido palmítico, além da facilidade de se dissolver em gorduras, óleos vegetais e lipídios em geral.
“O ômega 9 é um tipo de gordura importante para a saúde, porque reduz a pressão arterial, o colesterol, aumenta o HDL, acelera a oxidação de gorduras, reduz a inflamação, melhora a plasticidade neuronal (capacidade do cérebro em desenvolver novas conexões), melhora o metabolismo cardiovascular, entre outros”, acrescenta Michelle.
Romy Tokarski, CEO da Naiak, uma das empresas que comercializam o óleo de pequi, diz que, desde o início de 2016, existem pessoas consumindo as cápsulas, porém, por ser um produto bastante regional e pouco conhecido fora de Goiás, a demanda anda é pequena. “Mas isso é questão de tempo. Acreditamos que o uso é crescente, pelo grande diferencial de embasamento científico que o óleo de pequi possui, o que é difícil no Brasil. Há até expectativa no uso do óleo para o tratamento coadjuvante do câncer.”
Segundo Romy, os consumidores são variados, mas a maioria são atletas — homens e mulheres acima de 35 anos. “Sempre recebemos feedback do uso do óleo em cápsulas. O principal relato é a diminuição de dores após exercícios físicos e a diminuição da dor inflamatória em doenças crônicas. O caso mais inusitado que chegou até nós foi de um médico. Ele deu as cápsulas para seu cachorro, que estava muito idoso e com dores articulares. Após a ingestão, voltou a andar”, enfatiza Romy.
Os benefícios
» Atletas praticantes de meia maratona mostraram uma melhora significativa nas lesões oxidativas do DNA — exercícios de alta intensidade aumentam a oxigenação, produzindo mais radicais livres, o que favorece o aparecimento de lesões.
» O uso de óleo de pequi previne lesões, estresse oxidativo e normaliza a pressão arterial (benefícios característicos do Ômega 9).
» Estudos em ratos mostram que, quando o tratamento quimioterápico é associado com o óleo de pequi, o organismo sofre menos danos. Porém, mais estudos precisam ser feitos.
» Pode ser utilizado por qualquer pessoa que tenha um estilo de vida saudável, com objetivo na prevenção de doenças.
Por: Carolina Militão