“Tá parecendo até fila da biometria”, diz o comerciante Antônio Almeida enquanto aguarda na fila de abastecimento do posto de combustível do Vale do Canela, em Salvador. Desde a última quinta-feira (24), ele tenta abastecer o carro, mas não consegue. “Ontem eu tive que esperar por quase uma hora, mas na minha vez a  gasolina do posto do Barbalho acabou”, conta ele.

Para garantir o tanque cheio, Almeida resolveu sair cedo de casa para procurar gasolina. “Acordei decidido a colocar. Posso esperar quatro horas, mas vou abastecer”, completou.  A escassez de combústiveis, causada pela greve dos caminhoneiros, está transfomando os consumidores em “caçadores” de gasolina em diversos pontos da cidade. De acordo com o Sindicato dos Combustíveis, a previsão é que a gasolina acabe hoje de tarde em todo o estado.

“De tarde não vai ter mais nenhum posto vendendo gasolina e álcool na Bahia. A situação é crítica e bem preocupante”, afirma o presidente do Sindicato dos Combustíveis, Walter Tannus.

O autonomo Gilton Junqueira saiu antes das 6h, do bairro do Bonfim, em Salvador, para procurar gasolina. Ele conta que passou em três postos no seu bairro, mas todos estavam fechados. “Ontem eu peguei mais de uma hora de fila e não consegui abastecer. Hoje, estou há mais de quarenta minutos esperando pra aventuar colocar . Já deixei de pegar clientes hoje, porque não tem como rodar”, fala ele, euquanto aguardava na fila do posto do Vale do Canela.

O técnico de segurança Adriano da Silva Nascimento também saiu mais cedo para abastecer o carro. “Eu não sei se vou conseguir levar minhas filhas na escola hoje, porque estou aqui há uma hora. Ontem eu passei a noite procurando e não achei”, conta.

De tanto esperar, o automono Tarsílio Freitas optou por sair do carro. “Vou esperar aqui fora mesmo, porque não dá pra ficar dentro do carro, não. Minha sorte é meu carro aceita qualquer tipo de combustível, então, vou botar o que tiver aí”, diz.

Até de madrugada
A busca por gasolina chegou a varar a madrugada nos postos de gasolina de Salvador. O empresário Jorge Sousa saiu do Cabula por volta das 22h de quinta com o tanque na reserva e só conseguiu voltar com o tanque cheio por volta das 3h30 de sexta.

“Só consegui encontrar gasolina em Periperi no desespero de ficar sem ter como voltar para casa. No posto ainda rolou confusão porque chegou um rapaz de moto com um tonel enorme e quase leva a gasolina do posto toda embora. Teve briga”, conta o empresário que pagou R$ 4,99 pelo litro.

Apesar de ter enchido o tanque ele decidiu adiar uma viagem de trabalho que faria para Maragogipe. “Perderei dinheiro, mas é melhor do que me arriscar pela estrada com essa situação e ficar sem gasolina”.

A administradora Mayara Ribeiro também precisou varar a madrugada para achar gasolina para encher o tanque e garantir o final de semana. “Eu sai da Federação e só fui encontrar gasolina em Alphaville. No caminho vários postos estavam com filas enormes e sem garantia que teria combustível para todos. Consegui abastecer por R$4,99 em Alphaville por volta de 1h30”.

Estratégias para economizar
Calorento por natureza, o motorista de Uber Valter Novaes aboliu o ar-condicionado. “Trabalho com gasolina. Rodei a cidade hoje cedo para ter combustível para abastecer. Só consegui botar meio tanque no Comércio e outro meio tanque no Canela depois de entrar nas filas de madrugada para abastecer. Eu tenho calor crônico, mas com a gasolina desse jeito estou pedindo desculpa aos clientes e deixando no calor mesmo para economizar gasolina”.

O estudante Luis Almeida também optou por desligar o ar-condicionado do carro. “Eu estou passando mal de calor, mas sei que preciso poupar”, disse ele. Para tentar economizar, ele ainda  vai limitar o uso do carro. “Eu não ficar passeando, como costumo fazer. Preciso do caro pra levar minha mãe no médico segunda e estou com medo da greve não ter acabado”, disse ele

Longas filas
Além do posto do Vale do Canela, outros postos também estão com longas filas. No posto Mataripe da Avenida Ogunjá, sentido Bonoco, por exemplo, a fila de carros às 9h30 chegava a Avenida Vasco da Gama. Até às 7h, a fila de carros estava no Atacadão Mercantil Rodrigues, a poucos metros do posto – o litro da gasolina está  R$ 4,53. “Já tinha uns 50 carros. Mas chegou uns 4 mil litros de gasolina e não dará  para encher a metade”, disse um funcionário do posto que não quis se identificar. Segundo ele, um caminho trouxe o combustível de madrugada após furar um bloqueio. No entanto, o atendimento está previsto para a partir do meio dia. “O sistema está  fora do ar, pra piorar a situação”, declarou.

Postos fechados 
O Posto Shell do Acesso Norte, sentido Feira de Santana. “Não tem gasolina e álcool desde às 14h de ontem. Quem tem carro a gás, consegue abastecer aqui. Caso contrário…”, disse o frentista Danilo dos Santos, 25, por volta das 9h30 desta sexta-feira  (25). “Já disse uns 200 ‘não’ hoje”, complementou Santos, que chegou para trabalhar às 5h.

O CORREIO encontrou pelo menos mais quatro postos sem combustível: BR da Praça Lord Cochrane (sentido Garibaldi); Menor Preço da Garibaldi, na entrada da Adhemar de Barros; Menor Preço do Clube Espanhol e BR da Centenário, vizinho ao Bompreço  da Barra.

Por: Milena Teixeira* e Bruno Wendel