Falta de combustível limita circulação de ambulâncias e cancela cirurgia em alguns estados; preocupação é nacional, dizem entidades
A paralisação de caminhoneiros chega ao 5º dia e já começa a abalar todos os setores que dependem do transporte de insumos – inclusive o de saúde. Entidades nacionais do setor procuradas pelo G1 informam que o efeito da greve e da falta de combustível está começando a ser sentido no abastecimento de medicamentos e no cancelamento de cirurgias não emergenciais. Também há crises localizadas em alguns estados (confira abaixo).
A preocupação mais urgente e mais imediata nesse momento, contudo, é com a circulação de ambulâncias: em Minas Gerais e no interior de São Paulo, parte da frota deixou de circular. Outro ponto de alerta são os insumos necessários para a realização de cirurgias e de procedimentos. Como não chegam a hospitais, a ausência desses materiais está gerando cancelamentos.
Em Santa Catarina, a secretaria de Saúde anunciou o cancelamento de todas as cirurgias eletivas (não emergenciais) em treze hospitais da rede estadual por falta de material cirúrgico. Já em Santos (SP), houve cancelamento de vacinas por falta de reposição; em Pernambuco, os estoques de oxigênio estão pela metade. Há também alguns equipamentos laboratoriais que funcionam a diesel e não possuem reservas.
Abaixo, um resumo da situação em algumas regiões:
- Alguns hospitais de Minas Gerais, Pará e interior de São Paulo funcionam com parte da frota de ambulâncias;
- Há cancelamento de cirurgias não emergenciais em Florianópolis (SC), João Pessoa (PB), São José dos Pinhais (PR), e Juiz de Fora (MG);
- Falta oxigênio em Petrolina (PE), Porto Alegre (RS) e Juazeiro (BA);
- Equipamentos em laboratório que funcionam a diesel não possuem reservas a longo prazo, informa entidade;
- Faltam alimentos em hospitais de Porto Alegre (RS);
- Santa Casa de Sorocaba (SP) cancelou exames;
- Santos (SP) cancelou vacinação.
- Ambulâncias e funcionários
Afora algumas situações já instauradas, há a preocupação com o atendimento de ambulância, com a presença de funcionários nos hospitais e com o abastecimento de caldeiras em laboratórios, que funcionam a diesel e não possuem reservas para longos períodos.
O consenso é que, por enquanto, não há consequências tão graves, mas a situação precisa ser normalizada nos próximos dias: há poucas reservas de oxigênio (PE) e o risco de falta de insumos de hemodiálise (RJ).
Tércio Kasten, presidente da presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), entidade que congrega federações de saúde estaduais, reforça que a principal preocupação é com ambulâncias.
“Se a greve persistir, o serviço de prestação de saúde terá consequências. Nossa preocupação eminente é com as ambulâncias do serviço de emergências” — Tércio Kasten.
Equipamentos a diesel
Uma outra preocupação são as caldeiras em laboratório que funcionam a diesel. Utilizada em vários setores da indústria, elas são largamente usadas na indústria farmacêutica para a fabricação de insumos.
“Grande parte das caldeiras utilizadas no setor utilizam o diesel como combustível, não dispondo de uma estocagem para longos períodos de carência”, diz Kasten.
Ausência de medicamentos
Entidades também manifestaram preocupação com a ausência de medicamentos. Na quinta-feira (25), a Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias) disse que 6,3 milhões de estabelecimentos em todo o país não estão sendo abastecidos.
A rede também manifestou preocupações com terapias que precisam de refrigeração – circunstância difícil de se manter por muito tempo na estrada.
O presidente da Febrafar (Federação Brasileira de Farmácias), Edison Tamascia, disse que o impacto da greve começou a ser sentido na quarta-feira (24).
“Não chegou mercadoria e o movimento está sendo bastante afetado. Existe um sério risco de falta de medicamentos. Nossa expectativa é que a situação se resolva o quanto antes”, diz Tamascia.
Outras entidades que manifestaram preocupação com a continuidade da greve foram a Federação Brasileira de Hospitais, a Associação Nacional de Hospitais Privados e a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
“Estamos preocupados com a situação do desabastecimento de insumos, de materiais hospitalares e, também, de mão de obra, ou seja, a presença física dos funcionários nos hospitais”, disse Luiz Aramicy Pinto, presidente da Federação Brasileira de Hospitais.
A situação poderá ser resolvida?
A reportagem do G1 entrou em contato com o Ministério da Saúde para verificar se estão sendo pensadas alternativas para o abastecimento de insumos de saúde.
Os caminhoneiros estão parados há cinco dias. Há manifestações em 20 estados e no Distrito Federal contra a disparada do preço do diesel,que faz parte da política de preços da Petrobras em vigor desde julho de 2017.
Na quinta-feira (24), um acordo do setor foi feito com o governo, que incluiu a redução de 10% nos preços do diesel pelos próximos 30 dias; a paralisação, no entanto, continua nesta sexta-feira (25).
Santa Catarina
- Rede estadual: a secretaria de Saúde anunciou o cancelamento de todas as cirurgias eletivas em treze hospitais da rede estadual. De acordo com a secretaria, a medida é para economizar medicamentos e outros materiais que podem ser necessários no atendimento de emergências.
- Florianópolis: Outros cinco hospitais particulares ou filantrópicos já tinham anunciado o cancelamento das cirurgias eletivas.O Hospital Universitário de Florianópolis pediu, no fim da tarde desta quinta-feira (24), para que as pessoas evitem comparecer aos procedimentos e consultas previamente agendadas. O Hospital Caridade também cancelou cirurgias não emergenciais.
- Maravilha: Hospital São José cancelou cirurgias eletivas.
- Rio Grande do Sul
- Porto Alegre: O Hospital das Clínicas de Porto Alegre confirmou que enfrenta problemas de desabastecimento. Não estão chegando alimentos, oxigênio e insumos de consumo diário. Cidades decretamestado de calamidade pública.
- Paraná
- São José dos Pinhais: No Hospital São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, o estoque de oxigênio está baixo. A previsão é que dure até domingo (27). A empresa fornecedora fica em Curitiba e já informou à direção do hospital que não está conseguindo passar pelos bloqueios e que os caminhões estão com pouco combustível. Por precaução, o hospital cancelou as cirurgias eletivas até segunda-feira (28).
- Paraíba
- João Pessoa: O Hospital Universitário de João Pessoa cancelou as cirurgias eletivas. A direção do hospital justificou que foram desmarcadas por uma questão de segurança, para evitar que os pacientes se preparem para as cirurgias e as equipes médicas não consigam chegar ao trabalho.
- Minas Gerais
- Juiz de Fora: O Hospital Albert Sabin anunciou que as cirurgias eletivas estão suspensas. O hospital realiza, em média, quinze operações deste tipo por dia. Os casos de urgência e emergência continuam sendo atendidos normalmente. A Fundação Hemominas orientou a suspensão das cirurgias eletivas nos hospitais de Juiz de Fora e região. O motivo é a queda no estoque de sangue.
- Pirapora: A Prefeitura de Pirapora divulgou nota nesta quinta-feira (24) informando que o transporte de pacientes para cidades como Montes Claros e Belo Horizonte será interrompido a partir da sexta-feira (25). Em nota, a Secretaria de Saúde disse que o serviço será suspenso temporariamente devido à “falta de combustíveis no posto do município”.
- Divinópolis: A preocupação é com o estoque de medicamentos muito procurados nesse período de temperaturas mais baixas, como os de diabetes e de asma.
- Pernambuco
- Petrolina: O transporte de pacientes para outras regiões foi suspenso.
- Bahia
- Juazeiro: O hospital que atende 53 municípios do estado e de Pernambuco está com o estoque de oxigênio pela metade. Na maternidade, UPA e SAMU de Juazeiro, a quantidade de oxigênio, caso não seja reposta, vai terminar nesta sexta (25). A previsão é de que o estoque seja reposto até o final da manhã.
- Tocantins
- Palmas: A preocupação é com o oxigênio das ambulâncias.
- São Paulo
- Cancelaram a vacinação por falta de reposição de vacinas.
- Americana: Há falta de remédios e de materiais de limpeza na secretaria de Saúd No laboratório municipal, a prefeitura informa que o estoque de suprimentos está baixo e deve durar apenas mais 10 dias.
- Amparo: As ambulâncias atenderão somente casos de urgência. O transporte de pacientes está restrito a casos prioritários, como os de hemodiálise.
- Brotas: A secretaria de Saúde está limitando o uso das ambulâncias. Só estão sendo atendidos casos de urgência e emergência, como de pacientes que precisam ser transferidos para outras cidades. A medida vale até o fim das manifestações.
- São Carlos: Alguns serviços de transporte serão suspensos, entre eles a remoção de pacientes realizada pela secretaria da Saúde para outros municípios. O abastecimento será mantido apenas para os serviços emergências como Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Corpo de Bombeiros.
- Sorocaba: A Santa Casa desmarcou dezenas de exames, e pelo menos dez cirurgias foram canceladas. O hospital informou que a medida foi tomada para evitar a falta de matérias e medicamentos para atendimentos de urgência. O cancelamento das cirurgias e exames também vai ajudar a manter, por alguns dias, o estoque de gases, como o oxigênio.
- Jarinu: Serviços de transporte estão restritos para uso de urgência, emergência e hemodiálise;
- Votorantim: A frota foi abastecida, porém o transporte de pacientes para outras cidades ficou prejudicado nesta quinta-feira (24) devido aos bloqueios na estrada. Entregas de medicamentos podem atrasar.
- Pará
- Castanhal: No nordeste do Pará, os veículos oficiais da prefeitura estão sem combustível. De acordo com a administração, os postos credenciados para abastecer oscarros e ambulâncias já estão sem gasolina, afetando a operação dos serviços municipais.
- Rio de Janeiro
- Rio de Janeiro: Médicos manifestam preocupação com pacientes que têm problemas renais. Caso insumos não cheguem à cidade,procedimentos de hemodiálise podem ficar comprometidos.
Por: Por Monique Oliveira, Luiza Tenente, e Mariana Garcia, G1