Saúde, educação, previdência, transporte e segurança pública: os temas mais recorrentes “na boca do povo” são essenciais para eleger o próximo presidente da República. É a sociedade que dita os assuntos que devem ser tratados nas campanhas para que um presidenciável, por exemplo, chegue ao posto de mais alto cargo do Executivo. Neste cenário incerto de eleições, o jogo político mostra que é necessário correr atrás e atender às principais demandas da população. Mas, afinal, o que querem os eleitores? Foi com essa pergunta que o Correio circulou nas ruas, ouvindo o que mais se espera do próximo eleito.
Entre os temas mais discutidos, cinco se sobressaíram como mais recorrentes (veja no quadro ao lado). A segurança pública tomou espaço na opinião pública, após as demandas do país com a intervenção federal no Rio de Janeiro. Saúde e educação, assuntos que fazem sempre parte da demanda populacional, também estiveram na lista, com pedidos de melhores investimentos. Os problemas nos transportes públicos também foram citados, com foco na infraestrutura e no preço das passagens.
Por fim, a questão da Previdência. Essa última ganhou força após o esforço do governo federal de tentar aprovar a reforma no começo do ano. Apesar de a maioria entrevistada acreditar na necessidade de haver uma mudança na legislação da aposentadoria, as críticas são por pontos específicos no texto.
Para o cientista político Márcio Cunha Carlomagno, os temas reivindicados pela sociedade fazem parte de uma antiga demanda. “Saúde, educação, transporte são pautas que sempre estão presentes, e são assim há muitos anos. São clássicas, que sempre estão no topo dos desejos. Historicamente, saúde é a principal queixa”, diz. Porém, Carlomagno acredita que há assuntos que variam conforme o ano eleitoral, isso porque a população muda, assim como os principais problemas do país. Um dos exemplos é a eleição que elegeu Fernando Collor, na qual a inflação era o principal tópico a ser trabalhado. “O candidato que vencer é aquele que souber responder essa pauta (da sociedade). A gente pode perceber, por exemplo, agora, um incremento da população com segurança pública e o crescimento nas pesquisas de candidatos que respondem a essa pauta”, explica.
Segundo o especialista, é essencial entender a demanda da população para que o presidenciável possa se beneficiar disso. “É interessante ver que alguns candidatos estão com pautas diferentes. Os mais à esquerda vão tentar trazer o retorno da ascensão social do governo Lula. O candidato do PSDB vai se valer da questão econômica e das reformas. O Bolsonaro, por exemplo, tem essa relação com segurança”, avalia.
E é exatamente pela tentativa de buscar votos que os candidatos tendem a fugir de pautas polêmicas e se esquivar até que tenham um eleitor fiel. Isso, no entanto, segundo Carlomagno, mudará este ano. O cientista político acredita que o “modelo clássico” de “ficar em cima do muro” em questionamentos controversos não será uma boa jogada este ano. “Por causa dessa certa insatisfação do eleitor com a política, me parece que, ao menos parcialmente, esse tipo de comportamento do candidato, que evita se posicionar para não criar polêmicas, é um dos aspectos que desagradam a população”, analisa.
Economia
Do ponto de vista do presidenciável, o analista de contas públicas Fábio Klein, da empresa paulista Tendências, acredita que o candidato que tratar sobre desemprego e aumento de renda sairá na frente. “Temos um nível histórico de pessoas sem trabalho. Chega a 12% entre a população economicamente ativa. Se falamos de todo mundo, incluindo pessoas subalocadas, o número aumenta para 20%. Não me lembro de algo assim nos últimos 15 anos”, explica.
Para Klein, esses dois assuntos devem ser basicamente os primeiros itens de preocupação nos palanques. Ainda assim, quem trouxer soluções milagrosas corre o risco de sair desacreditado. “Não adianta trazer uma coisa esotérica e falar que vai resolver tudo em um ano. Viemos de um caos nas contas públicas há dois anos e o jeito é pensar em maneiras gradativas e eficazes para solucionar a crise.”
Investir em infraestrutura e trazer de volta a confiança do setor privado para o setor público podem ser os maiores desafios. “As pessoas precisam ficar confortáveis em investir numa administração. Só assim o dinheiro volta a circular”, pondera Fábio Klein, que sugere a despersonificação excessiva das pessoas durante as campanhas. “Você não pode achar que o cara vai fazer tudo sozinho. Ele não é CEO de uma empresa. É um presidente da República que precisa de uma boa equipe e boa capacidade de negociação. Só se consegue isso, por exemplo, tendo um bom relacionamento com o Congresso Nacional. E ninguém sabe o que vai encontrar ali”, completa.
Por: Deborah Fortuna – Especial para o Correio e Bruno Santa Rita*