Homenagens aos mortos foram reunidas em uma única data pela Igreja Católica há mais de um milênio e, na América Latina, misturam origem europeia e expressões indígenas
“Num dia, há vida. Um homem (…) segue de um dia para o outro, cuidando das suas coisas, sonhando apenas com a vida que se estende à sua frente. E então, de repente, acontece que há morte.” O trecho do livro “A invenção da solidão”, do escritor americano Paul Auster, sintetiza o absurdo da morte e fala sobre “o inesperado da coisa” e como “não dá nenhuma chance para a mente procurar uma palavra capaz de consolar”.
Desde tempos remotos, a solução para lidar com esse absurdo foram os rituais de despedida, que ajudam a superar a perda. Em determinadas culturas, eles são mais reservados. Em outras, mais excêntricos. As celebrações do Dia de Finados no Brasil e nos demais países da América Latina, em geral, reuniram um pouco desses dois aspectos a partir da mistura de expressões europeias e indígenas.
Na região, o feriado do Dia de Finados parece concluir um período curto de celebrações do aspecto mais sombrio da vida – o seu fim. As celebrações começam no Dia das Bruxas (31 de outubro), passando pelo Dia de Todos os Santos (1º de novembro) – que celebra os que morreram depois de “se deixarem atrair pela proposta divina”, segundo explicação do Vaticano -, até o dia 2 de novembro, o Dia dos Mortos, como é mais conhecida a data em alguns países.
Origem
A celebração do Dia de Finados em 2 de novembro aconteceu pela primeira vez há mais de um milênio, no ano de 998, de acordo com o site oficial da Igreja Católica. Segundo o Vaticano, a reunião de homenagens em apenas uma data foi uma criação do abade francês Odilo de Cluny, que viveu entre os séculos 10 e 11.
Inicialmente, a data era conhecida como “Dia de todas as almas” porque, entre os séculos 2 e 10, os rituais em lembrança dos mortos aconteciam em dias variados, e não havia nenhuma data no calendário cristão que estabelecesse uma homenagem. As primeiras cerimônias eram, em geral, realizadas pelos familiares no terceiro dia após cada enterro. Mais tarde, passaram a acontecer no aniversário de morte.
Ainda que Odilo de Cluny tenha estabelecido o dia 2 de novembro como o Dia de Finados, foi apenas no começo do século 20 que a data foi universalizada. Em 1915, o papa Bento XV permitiu que os sacerdotes celebrassem missas pelos mortos, segundo informações da Igreja Católica.
Muito além do cristianismo
A mistura entre as culturas cristã e pré-colombianas – que ocupavam a América antes da chegada dos europeus – acrescentou novos ritos ao Dia de Finados. Em alguns lugares, do continente o Dia dos Mortos é uma expressão cultural das mais importantes e atração turística.
É o caso do México, onde os rituais do Dia dos Mortos são parte fundamental do calendário cultural. Os festivais celebrados pelo país foram classificados como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) desde 2008.
No Brasil, onde a data virou feriado estabelecido por lei em 2002, o Dia de Finados é caracterizado por missas solenes em igrejas católicas, explosão no comércio de arranjos de flores e lotação de cemitérios.
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