FM NEWS

A Freqüência da Notícia

Saúde

Ser perfeccionista pode trazer sérios prejuízos à saúde

Nas últimas décadas houve aumento significativo nos índices de perfeccionismoentre universitários recém-formados, indica estudo realizado pelas Universidades York St. John e Bath, no Reino Unido.

Outra pesquisa realizada pela Universidade de West Virginia, nos Estados Unidos, indica que duas em cada cinco crianças e adolescentes são perfeccionistas. “Estamos começamos a falar sobre como caminhamos para um caso de epidemia em saúde pública”, disse Katie Rasmussen, autora do estudo e pesquisadora do desenvolvimento infantil e sua relação com o perfeccionismo, à BBC.

Os resultados de ambas as pesquisas apontam para uma população que não é melhor sucedida apesar de buscar a perfeição, mas que está ficando cada vez mais doente. Isso porque essa tendência está associada a uma série de condições clínicas preocupantes como: depressão e ansiedade (mesmo em crianças), automutilação, transtorno de ansiedade social e agorafobia, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), compulsão alimentar, anorexia, bulimia, estresse pós-traumático, síndrome de fadiga crônica, insônia, colecionismo, dispepsia, dores de cabeça crônicas e, em casos extremos, mortalidade precoce e suicídio.

“É algo que passa por tudo em termos de problemas psicológicos. Não há muitas outras condições que fazem isso. Há estudos que sugerem que, quanto mais perfeccionista, mais transtornos psicológicos você vai sofrer”, comentou Sarah Egan, pesquisadora da Universidade Curtin, na Austrália, especializada em perfeccionismo, distúrbios alimentares e ansiedade.

Perfeccionismo: elogio ou não?

Alguns pesquisadores qualificam o perfeccionismo em dois tipos: o perfeccionismo adaptativo (ou saudável), caracterizado pelo alto padrão, motivação e disciplina, e o mal-adaptativo (ou nocivo), quando o indivíduo nunca está satisfeito com o próprio desempenho e fica extremamente frustrado quando não atinge metas. Pesquisas apontam também para o fato de que aspectos da forma “nociva” tornam as pessoas mais vulneráveis à depressão, enquanto o perfeccionismo “saudável” pode proteger o indivíduo.

Em 2016, a pesquisa realizada pelas Universidades York St. John e Bath constatou que as pessoas que estipulam parâmetros elevados – sejam atletas, trabalhadores ou estudantes – apresentam apenas uma pequena ou nenhuma vantagem na comparação com aquelas que não determinam. Já indivíduos que manifestam o perfeccionismo mal-adaptativo sofrem significativamente mais burnout (ou esgotamento).

“Existe uma ideia de que, em alguns casos, o perfeccionismo pode ser saudável e desejável. Com base nos sessenta estudos que fizemos, achamos que isso é um mal-entendido. Trabalhar duro, ser comprometido, diligente e assim por diante, são todas características desejáveis. Perfeccionismo não é adotar padrões altos. É estabelecer padrões irreais. Não é um comportamento. É a maneira como você pensa sobre si mesmo”, explicou Andrew Hill, co-autor do estudo.

Perfeccionismo X Conscienciosidade

Segundo especialistas, o que muitas pessoas consideram perfeccionismo “saudável” é, na verdade, conscienciosidade, caracterizado pelo ato de ser meticuloso, responsável e honesto no que diz respeito às regras éticas sociais.

Para eles, o perfeccionismo não é definido pelo estabelecimento de metas elevadas ou pelo grau de empenho no trabalho. É uma voz crítica interior, que atual nos aspectos mais variados da vida do indivíduo e faz com que ele sempre pense no fracasso ao não atingir uma meta. “Perfeccionistas e não perfeccionistas podem parecer iguais à distância e por um curto período de tempo. Mas à medida que você se aproxima e os observa no longo prazo, vê que as pessoas conscienciosas têm mais jogo de cintura para lidar com as situações quando algo dá errado. Perfeccionistas sentem cada solavanco na estrada. São muito sensíveis ao estresse”, esclareceu Hill.

Perfeccionismo e desistência

Durante um experimento realizado durante o estudo, a equipe de Hill descobriu que os perfeccionista tendem a ficar muito frustrados ao não gerar as metas esperadas. Os resultados mostraram que a “busca pela perfeição” é justamente o que atrapalha essas pessoas na hora de alcançar os objetivos. Os perfeccionistas tendem a responder de forma mais dura emocionalmente. Eles sentem mais culpa, mais vergonha. Eles desistem mais facilmente. Têm tendência a fugir quando as coisas não podem ser perfeitas”, contou Hill.

Isso acontece principalmente porque, para os perfeccionistas, a performance está ligada ao senso de identidade. Ou seja, quando não são capazes de fazer algo, eles sentem vergonha de si mesmos. O perfeccionismo é justamente um mecanismo de defesa para evitar a vergonha, mas os indivíduos perfeccionistas não entendem que essa atitude é o que gera o problema. Como resultado, a busca pela perfeição se torna um ciclo vicioso. E, uma vez que é impossível ser perfeito, todo esforço acaba sendo em vão.

Perfeccionismo e transtornos mentais

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cada vez mais jovens têm sido diagnosticado com transtornos mentais, como depressão, ansiedade e pensamentos suicidas se comparados com diagnósticos realizados há uma década. Uma pesquisa mostrou que tendências perfeccionistas geram algumas dessas condições – como depressãoansiedade e estresse –, mesmo quando traços da personalidade, como neuroticismo (propensão a emoções negativas), são controlados pelos cientistas.

Apesar de alguns problemas de saúde mental não serem causados exclusivamente pelo perfeccionismo, um estudo recente revelou que estudantes universitários diagnosticados com ansiedade social estão mais propensos a se tornarem perfeccionistas. Também foi constatado que a autocompaixão – virtude que falta aos perfeccionistas – é uma das formas de proteção mais poderosas contra a depressão e a ansiedade. No entanto, a autocrítica, sintoma predominante, pode levar à depressão.

Por: Da Redação