Cerca de 43,5% dos rios do mundo têm altas quantidades de medicamentos, diz estudo
Um estudo publicado na revista científica Environmental Toxicology and Chemistry descobriu que componentes farmacêuticos foram encontrados em 43,5% dos 1.052 rios avaliados.
De acordo com a pesquisa, realizada localizações fluviais de 104 países, 23 ingredientes farmacológicos presentes nas amostras coletadas excederam a concentração considerada “segura”.
Segundo a autora Alejandra Bouzas-Monroy, da Universidade de York, “esta é a primeira avaliação verdadeiramente global dos impactos de medicamentos únicos e misturas de produtos farmacêuticos em sistemas ribeirinhos”, disse em um comunicado.
m 461 dos 1.052 locais de amostragem monitorados, pesquisadores encontraram substâncias como antidepressivos, antimicrobianos, antifúngicos, analgésicos, progesterona, bloqueadores de canis de cálcio (usados no tratamento de hipertensão arterial) e outros.
As maiores concentrações cumulativas das substâncias em águas superficiais foram observadas na África Subsaariana, Sul da Ásia e América do Sul, sendo Lahore, no Paquistão, o sistema mais poluído.
Com relação aos componentes, o fármaco mais frequentemente nas amostras foi o carbamazepina (um anticonvulsivante), seguido da metformina (usado no tratamento para diabetes tipo 2) e cafeína (um estimulante e produto químico de estilo de vida), todos detectados em mais da metade dos sistemas monitorados.
“Nossas descobertas mostram que uma proporção muito alta de rios em todo o mundo está ameaçada pela poluição farmacêutica. Devemos, portanto, fazer muito mais para reduzir as emissões dessas substâncias no meio ambiente”, disse Bouzas-Monroy.
Poluição farmacêutica
Um relatório das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostrou que 90% dos antibióticos são lançados no meio ambiente ainda como substâncias ativas, por meio de esgotos ou por defecação a céu aberto. Como consequência, os microrganismos resistentes a medicamentos presentes na água podem provocar outra pandemia.
O documento também mostrou que o descarte incorreto de antibióticos no meio ambiente amplia a ameaça da resistência antimicrobiana.
Estima-se que somente em 2015 foram consumidas 34,8 bilhões de doses diárias de antibióticos. O aumento no número de bactérias resistentes aos medicamentos, chamadas popularmente de superbactérias, coloca em risco a saúde de humanos e de animais em todo o mundo.
De acordo com o estudo, para cumprir os objetivos estipulados pela ONU, a poluição farmacêutica precisa ser resolvida com urgência.
“Se quisermos cumprir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, particularmente o Objetivo 6, “Água Limpa e Saneamento”, precisamos urgentemente enfrentar o problema global da poluição farmacêutica”, escreveram.
O Objetivo 6 da ONU tem como meta, até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas residuais não tratadas e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente.