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Lula e Bolsonaro apostam em estratégias diferentes para atrair “voto útil”

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto, apostam em estratégias diferentes para atrair o “voto útil” de eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).

Com o objetivo de eleger Lula já em 2 de outubro, a campanha petista tem se empenhado em antecipar os votos de eleitores que, em um eventual segundo turno contra Bolsonaro, optariam por Lula. Para isso, a campanha pretende usar a “defesa da democracia” na tentativa de convencer o maior número de eleitores.

Essa estratégia, no entanto, é arriscada e pode causar um efeito contrário, de acordo com o cientista político e presidente do conselho científico do Ipespe, Antonio Lavareda.

Segundo ele, a costura de apoios de grande visibilidade, como o selado com a ex-ministra Marina Silva (Rede), “tem um apelo para o voto útil muito maior, mais legítimo e menos perigoso do que quando se faz apelos explícitos a esse voto útil”.

“As principais ‘vítimas’ desse eventual voto útil reagem com muita contundência e terminam fragilizando a narrativa do ex-presidente. Um ataque do Ciro ou de Simone é mais nocivo para a imagem do ex-presidente do que um ataque de Bolsonaro, que por definição é seu antípoda”, observa Lavareda.

Na última quarta-feira (14), a senadora emedebista afirmou que o voto útil é um “desrespeito à população brasileira”. O pedetista ampliou as tentativas nas redes sociais para evitar a migração de parte do seu eleitorado para Lula com o discurso de que “o voto útil quer fazer da sua escolha uma inutilidade”.

“Pode ter um efeito contrário ao desejado, parecer, para os eleitores, uma deselegância, uma forma de tentar roubar voto dos outros e não conquistá-los de forma legítima”, acrescenta o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Lavareda adverte que, ao falar abertamente sobre vitória no primeiro turno, o ex-presidente pode frustrar as expectativas do seu eleitorado.

“O maior risco é despertar no eleitor médio a expectativa da vitória no primeiro turno e, quando isso não se concretiza, você tem uma frustração no seu eleitorado, que começa a campanha do segundo turno com a moral baixa”, diz o cientista político.

Enquanto Lula aposta em falar abertamente sobre o tema, Bolsonaro tenta antecipar o voto estratégico dos que preferem ele a Lula adotando uma postura “moderada”.

“Quando o presidente diminui o tom da sua campanha, das suas declarações, começa a pedir desculpas pelas declarações infelizes que fez, ele está cortejando exatamente esse eleitor [que, no segundo turno contra Lula, escolheria ele]. (…) Está desenvolvendo estratégias que não falem abertamente em voto útil, é uma postura mais consciente, menos perigosa”, diz o presidente do conselho científico do Ipespe.

Para o segundo colocado nas pesquisas, agregar votos estratégicos de outros candidatos não altera uma eventual ida ao segundo turno já que, para levar a eleição ao dia 30 de outubro, basta que o primeiro colocado não tenha mais de 50% dos votos válidos.

Por isso, Couto observa que não seria um “voto útil”, mas um voto estratégico. “É um voto estratégico. Eu voto não na minha primeira opção, mas na minha segunda opção por entender que ela será mais bem-sucedida lá na frente. Esse que projeta a próxima rodada do jogo é um tipo de voto estratégico. O0 voto útil é outro tipo de voto estratégico”, diz Couto.

Já Antônio Lavareda, do Ipespe, considera que esse tipo de voto no atual presidente também é um tipo de voto útil. “Esses eleitores, vendo a disputa muito estreita, podem se ver tentados a antecipar essa preferência do segundo turno para o primeiro turno”, afirma Lavareda.

Lavareda aponta que a estratégia adotada pelo atual presidente é de aumentar a rejeição de Lula, na tentativa de evitar que o petista seja beneficiado pelo voto útil.

“Para o Bolsonaro, se os eleitores dos outros candidatos já não forem para o Lula, já aumenta a chance do segundo turno”, observa Couto, acrescentando que a antecipação dos votos é importante para que o candidato à reeleição chegue fortalecido ao segundo turno.

De acordo com o cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP), o movimento é natural diante da estabilidade das pesquisas.

“Nesse contexto, levando em conta os últimos resultados, era mais ou menos previsível. Havia a expectativa de que se iniciasse a campanha do voto útil. É uma consideração que alguns podem fazer no sentido de que existe um perigo ou um risco maior nas eleições”, avalia.

Os eleitores de Ciro e Tebet

Pesquisa Genial/Quaest publicada nesta quarta-feira (14) mostra que, entre os eleitores de Ciro, 51% apoiariam Lula em um segundo turno ― número que era 56% no levantamento de 7 de setembro. Já 19% migrariam para Bolsonaro ― no levantamento anterior, eram 17%.

Entre os eleitores de Tebet, 35% pretendem votar em Bolsonaro no segundo turno, e 27%, em Lula. No levantamento anterior, o petista tinha 41% das intenções de voto entre os eleitores de Tebet, e o atual presidente possuía 22%.

O levantamento ainda aponta que 74% dos eleitores dizem que escolheram de forma definitiva seu candidato à Presidência. Na pesquisa de 7 de setembro, esse número era de 69%. Já os que dizem que o voto pode mudar passou de 28% no levantamento anterior para 26% no desta quarta.

O diretor da Quaest, Felipe Nunes, afirma que o eleitor tende a mudar de voto na última hora. Ele recorda que, em 2018, candidatos que não foram ao segundo turno perderam 11% no resultado da votação em relação às pesquisas Datafolha e Ibope.

“O voto estratégico de fato acontece, mas ele é na última hora do processo. A pesquisa Genial/Quaest está tentando antecipar qual será o tamanho desse voto”, diz Nunes.

“Se o voto estratégico ocorrer de forma plena, Lula ainda pode receber cinco pontos percentuais de votos totais no final do primeiro turno (…). Dependendo de uma combinação fina matemática, a eleição poderia ser decidida no primeiro turno”, avalia.