À medida que a febre da Copa do Mundo se espalha, o vandalismo e a violência relacionada ao futebol voltam às manchetes. Pesquisas anteriores ligaram o vandalismo no esporte a um desajuste social, como comportamento disfuncional em casa, no trabalho ou na escola. Uma nova pesquisa da Universidade de Oxford, na Inglaterra, chegou à conclusão de que o vínculo social e o desejo de proteger outros torcedores podem ser uma das principais motivações não apenas para o vandalismo no futebol, mas para o comportamento de grupos extremistas em geral – um traço da psicologia humana que remonta a seus tempos tribais.
O estudo, que entrevistou 465 fãs brasileiros e torcidas organizadas conhecidas, descobriu que esses torcedores não são particularmente disfuncionais fora do futebol e que a violência relacionada ao esporte é um comportamento isolado. “Eles não são necessariamente pessoas disfuncionais fora da comunidade do futebol; o comportamento violento é quase inteiramente focado naqueles que são considerados uma ameaça: geralmente fãs rivais ou, às vezes, a polícia”, afirmou a principal pesquisadora do Centro de Antropologia e Mente de Oxford, Martha Newson.
Fazer parte de um grupo de pessoas que se preocupa demais com o futebol, no entanto, aumenta instantaneamente a possibilidade de violência. Não apenas porque esses fãs são mais comprometidos com seu grupo, mas porque tendem a frequentar ambientes ameaçadores –como a região dos rivais–, é mais provável que eles estejam “em guarda”, prontos para lutar.
Embora as descobertas estejam ligadas a torcedores brasileiros de futebol, os autores acreditam que elas sejam aplicáveis a outras formas de violência, não necessariamente esportiva, mas praticada também por grupos religiosos e extremistas políticos. “A psicologia subjacente aos grupos violentos que encontramos entre os torcedores é provavelmente uma parte fundamental da evolução humana”, acredita a estudiosa. “É essencial que os grupos tenham sucesso uns contra os outros em busca de recursos como comida, território e companheiros, e vemos ali um legado dessa psicologia tribal.”
Os autores acreditam ainda que há potencial para que os clubes de futebol aproveitarem o compromisso de seus fanáticos torcedores de maneira positiva, uma vez que a violência vem de um desejo positivo de “proteger o grupo”. Já existe, por exemplo, torcidas que montaram estoques de alimentos ou criaram páginas de financiamento coletivo para fãs cronicamente doentes.
Em compensação, o estudo também sugere que combater comportamento extremo com policiamento ostensivo –que pode usar gás lacrimogêneo ou força militar– é contraproducente e só desencadeará mais violência ao impelirem os fãs mais comprometidos a se posicionarem e a “defenderem” seus companheiros.
O diretor do projeto, o professor Harvey Whitehouse, espera “que este estudo estimule o interesse pela redução de grupos de conflito pela compreensão mais profunda dos fatores psicológicos e que os impulsionam”.
Fonte: UOL