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Ozempic e Wegovy: novo estudo analisa risco de pensamentos suicidas

Pessoas que tomam semaglutida, um medicamento popular para diabetes e perda de peso, têm mais probabilidade de relatar pensamentos suicidas em comparação com aqueles que tomam outros medicamentos, de acordo com um novo estudo publicado na terça-feira (20), no JAMA Network Open, e realizado com base em um banco de dados internacional de segurança de medicamentos.

A descoberta é a mais recente oscilação das evidências científicas sobre o risco de depressão e suicídio associado aos medicamentos populares — e críticos dizem que as evidências de que esses medicamentos causam problemas de humor são limitadas.

A semaglutida é vendida sob o nome comercial Ozempic quando prescrita para diabetes e Wegovy quando prescrita para perda de peso. Além disso, várias empresas fabricam formas compostas do medicamento. O uso do remédio aumentou consideravelmente nos últimos anos, e estudos mostraram efeitos mais promissores, incluindo a redução de doenças renais e câncer.

No entanto, o suicídio tem sido uma preocupação de longa data com medicamentos que alteram o apetite. Para algumas pessoas, perder o prazer e a recompensa por comer cria uma mudança dramática no humor e pode aumentar o risco de autoagressão.

Em 2008, o medicamento para perda de peso rimonabanto, que atuava no mesmo sistema cerebral que dá às pessoas a fome quando estão sob efeito de maconha, foi retirado do mercado porque aumentava o risco de suicídio. (O medicamento nunca foi aprovado para uso nos Estados Unidos).

As informações ao paciente sobre a semaglutida já incluem um aviso para observar sinais de depressão e pensamentos suicidas. No entanto, há evidências conflitantes sobre o risco de pensamentos e sentimentos suicidas com novos medicamentos para perda de peso, incluindo a semaglutida.

No início deste ano, a Agência Europeia de Medicamentos afirmou que as evidências disponíveis não mostravam uma ligação entre suicídio e semaglutida, assim como outros medicamentos usados para perda de peso. A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA, também tem investigado o risco de suicídio e pensamentos suicidas em medicamentos da mesma classe que a semaglutida e, até agora, não encontrou nenhum risco aumentado. No entanto, a agência afirma que não pode descartar um pequeno aumento no risco devido ao pequeno número total de eventos em seus sistemas de vigilância, e a investigação continua em andamento.

Um grande estudo publicado em janeiro na revista Nature Medicine descobriu que o uso de semaglutida estava associado a um menor risco de pensamentos suicidas em comparação com pessoas que tomavam diferentes tipos de medicamentos para perda de peso e diabetes.

O que diz o novo estudo sobre medicamentos com semaglutida, como Ozempic e Wegovy?

novo estudo analisou relatos de pensamentos suicidas em pessoas que tomavam semaglutida — seja para diabetes ou perda de peso — em um banco de dados mantido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que compila eventos adversos relacionados a medicamentos em 140 países.

Os autores do estudo encontraram 107 relatos de pacientes, de um total de mais de 30.500, que disseram ter pensado em se matar enquanto tomavam semaglutida, e 162 relatos semelhantes, de um total de mais de 52.000, em pacientes que tomavam liraglutida, um medicamento injetável para diabetes, diferente, mas da mesma classe que a semaglutida. A liraglutida é um medicamento mais antigo, por isso mais pessoas já tiveram experiência com seu uso.

Os autores do estudo descobriram o que descrevem como um risco desproporcional de pensamentos suicidas em pessoas que tomavam semaglutida, mas não em pessoas que estavam tomando liraglutida. Quando compararam os relatos de pensamentos suicidas em pessoas que tomavam semaglutida com o risco relatado com todos os outros medicamentos no banco de dados, descobriram que o risco era cerca de 45% maior em pessoas que tomavam semaglutida.

O risco era cerca de quatro vezes maior em pessoas que também tomavam medicamentos para controlar a depressão e a ansiedade, sugerindo que esse grupo pode estar em risco ainda maior de efeitos sobre o humor com esses medicamentos. Quando os autores do estudo excluíram os casos de pessoas que tomavam semaglutida e antidepressivos, a associação desapareceu — sugerindo que as pessoas que estavam tomando ambos os medicamentos estavam impulsionando o risco.

Os autores do estudo reconhecem que sua pesquisa tem limitações. Mas, como tantas pessoas estão tomando semaglutida, eles acreditam que os resultados merecem um estudo mais aprofundado e uma “clarificação urgente” sobre o risco.

Outros especialistas afirmam que as evidências apresentadas no estudo são fracas.

“Basicamente, é difícil distinguir a partir deste estudo se é o medicamento que está causando isso ou o transtorno de humor”, diz Mahyar Etminan, especialista em segurança de medicamentos da Universidade de British Columbia em Vancouver, que não esteve envolvido no estudo.

“Este artigo apresenta, no máximo, evidências fracas de uma associação entre semaglutida e suicidabilidade”, diz Ian Douglas, professor de farmacoepidemiologia na London School of Hygiene & Tropical Medicine. Em um comentário dado a repórteres, Douglas afirmou que estudos como este são bons para gerar teorias, mas não podem provar causa e efeito.

Em um comentário sobre o estudo, Francesco Salvo e Jean-Luc Faillie, dois pesquisadores franceses de segurança de medicamentos que não participaram da pesquisa, concordam. Eles afirmam que é comum que estudos de segurança de medicamentos variem em suas conclusões dependendo do banco de dados utilizado e dos métodos do estudo. Até que tenhamos evidências melhores, eles dizem que é uma boa ideia ter cautela.

“Depressão ou suicidabilidade são eventos raros, mas extremamente graves, e precisam ser prevenidos e gerenciados tanto quanto possível”, escreveram Salvo e Faillie.

Sem dados mais precisos, eles acreditam que os medicamentos GLP-1 e outros tipos de supressores de apetite devem ser prescritos com cautela em pessoas com histórico de depressão ou pensamentos suicidas. E se os pacientes experimentarem um novo episódio de depressão enquanto estiverem tomando o medicamento, escreveram, os médicos podem querer considerar a “descontinuação imediata”.

À CNN Brasil, a Novo Nordisk, fabricante de ambos os medicamentos, enviou um posicionamento sobre o teor do estudo. No documento, a empresa afirma:

“Uma pesquisa independente, com resultados preliminares da Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) e conclusões de uma análise da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) não encontraram associação entre o uso de medicamentos agonistas de GLP-1 e o aumento do risco de pensamentos ou ações suicidas. Esses resultados estão alinhados com os dados coletados nos ensaios clínicos abrangentes da companhia, incluindo grandes estudos de resultados e estudos observacionais.

O estudo de Schoretsanitis et al. apresenta várias limitações, incluindo falta de dados sobre a dose do medicamento e a duração do tratamento, capacidade limitada de ajuste para ideação suicida preexistente ou depressão suicida também preexistente e uso indevido de álcool e substâncias, além de uma alta proporção de uso fora da indicação aprovada.

A Novo Nordisk prioriza a segurança do paciente e continuará a colaborar de perto com a FDA e outras autoridades regulatórias para monitorar a segurança de todos os seus medicamentos análogos ao GLP-1. A companhia apoia a segurança e a eficácia de todos os seus medicamentos agonistas de GLP-1 quando usados conforme indicado e sob os cuidados de um profissional de saúde licenciado. Os riscos conhecidos associados ao uso desses medicamentos estão refletidos nas informações do produto aprovadas pela FDA, EMA e Anvisa.

A Novo Nordisk realiza continuamente a vigilância dos dados de ensaios clínicos em andamento e do uso de seus produtos no mundo real, colaborando estreitamente com as autoridades para garantir a segurança dos pacientes e a adequada informação aos profissionais de saúde.”

Nota da redação: Se você está tendo pensamentos suicidas, ou conhece alguém que esteja, busque ajuda através do Centro de Valorização da Vida (CVV), entrando em contato com voluntários através do telefone (Ligue 188), chat onlinee-mail ou em um dos endereços dos postos do CVV (consulte aqui).

//Agência Brasil