A vida à frente de uma sala de aula tem se tornado cada vez mais desafiadora, principalmente levando-se em consideração a saúde mental e emocional dos professores.
Pensando nisso, a Rede Vitória, em parceria com a Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), lançou um concurso em que os docentes terão a chance de sugerir propostas para melhorar a qualidade de vida deles.
Para participar, os profissionais devem atuar nas redes públicas municipais e estadual de educação básica do Espírito Santo e cada um poderá enviar apenas uma proposta.
Os projetos serão avaliados pela originalidade e inovação, interesse coletivo e finalmente por clareza e objetividade. A proposta vencedora será enviada à Ales e poderá ser votada para se tornar um projeto de lei.
Para o diretor-executivo da Rede Vitória, Felipe Caroni, estar ao lado dos professores do Estado é fundamental, não apenas para melhoria na qualidade de vida dos profissionais, mas também porque políticas de mitigação e enfrentamento à pobreza e desigualdade social passam necessariamente pela educação.
“Sabemos que o Brasil é um país muito desigual e entendemos que o melhor caminho para diminuir essa desigualdade é a educação, a educação é o que nos permite quebrar esse ciclo de pobreza intergeracional. Esse projeto vem em um momento muito bom, estruturado pela Assembleia Legislativa do nosso Estado e nós, como veículo de comunicação, temos o dever de fomentar, de incentivar, para que se torne uma vitrine e a gente consiga melhorar o ensino básico e a qualidade de vida e oportunidade”,afirmou.
Saúde mental afetada e afastamento da sala de aula
O tema do concurso se torna cada vez mais relevante quando analisada a realidade dos profissionais de ensino básico no Espírito Santo. Depressão, ansiedade e burnout são sintomas recorrentes de que algo não está bem e são os maiores responsáveis por afastar educadores das salas de aula.
Somente em 2024, mais de 1.500 professores da rede estadual do Espírito Santo pediram afastamento por conta de questões relacionadas à saúde mental.
Um destes profissionais, um professor de biologia, de 44 anos, precisou se afastar por tempo indeterminado, por conta de crises de ansiedade.
Segundo ele, é necessário que os profissionais sejam ouvidos, para isso, o diálogo é fundamental.
“É muito importante o diálogo, nos dar voz e possibilidade de melhorar. Muito se fala na valorização do professor e da educação, é preciso adotarmos medidas emergenciais. Não podem se preocupar somente com índices, mas também em humanizar, repensar processos, diminuir a burocracia e trazer a família para fazer seu papel na vida do aluno”,disse.
O profissional se dedica à sala de aula já há 14 anos, mas durante o ano de 2024 foram 11 afastamentos por conta das crises de saúde mental. Ao todo, foram cinco atestados apresentados.
Dentre os problemas relatados pelo professor, está a dificuldade do dia a dia com os alunos, a falta de respeito dos estudantes e o esgotamento físico e mental acarretado por excesso de trabalho e poucos recursos.
Para ele, projetos como o Educação Em Pauta são fundamentais para garantir mais qualidade de vida aos profissionais de educação.
“O que mais se ouve nas salas dos professores é a questão do esgotamento, cansaço mental e problemas de saúde relacionados ao ensino. Seria uma boa alternativa para o Estado e os municípios”,afirmou.
Desafios na vida do professor
Com o passar do tempo, os desafios na vida dos educadores brasileiros e em especial do Espírito Santo se diversificaram. Antes, a maior causa dos afastamentos acontecia por conta de problemas físicos.
Até 2015, de acordo Carlos Duarte, secretário de Saúde do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), as queixas mais frequentes eram referentes a problemas de audição, o que foi dando lugar a doenças como depressão e ansiedade.
“São vários fatores, como a desvalorização profissional, a autocobrança dos trabalhadores em querer fazer mais em ambientes que não permitem que ele faça mais, as questões de um acirramento social, conflitos constantes em unidades escolares. São fatores que fazem com que o professor se desmotive em dar aula”,relatou.
Além disso, o secretário relata que o diálogo constante com os gestores é essencial. Não somente para amenizar ou precaver o surgimento de síndromes de ordem emocional.
Para ele, essa conversa é necessária para que a valorização e o respeito aos professores sejam recuperados.
“Queremos a conversa constante com o gestor, porque temos o problema social, como aconteceu em Aracruz, um cidadão invadir, matar e agredir diversas pessoas dentro de um contexto escolar. A segurança nas escolas dá essa tranquilidade ao profissional de educação. O respeito, a presença dos familiares na escola mostrando aos filhos como os pais respeitavam os professores no passado e também a valorização”,afirmou.
Políticas de valorização
O presidente da Ales, deputado estadual Marcelo Santos (União Brasil), afirma que o concurso realizado em parceria com a Rede Vitória tem como função principal dar voz e valorizar a classe dos profissionais de educação.
Para o deputado, que faz parte da banca avaliadora das propostas, o concurso é uma forma de garantir que os profissionais estejam cada vez mais capacitados e também tenham acesso a políticas de saúde efetivas e eficazes.
“O tema principal desta parceria com a Rede Vitória, que elaborou o projeto. Nós receberemos todas as sugestões e elencando as prioritárias e, naturalmente, as vencedoras, apresentar um projeto que vá ao encontro dos anseios dos profissionais de educação. e oportunizar a ele a sua valorização, além de dar voz para que isso possa chegar ao executivo municipal, estadual e federal”, disse.
Ainda segundo o parlamentar, a maior intenção do concurso é realmente propiciar a criação de uma lei baseada nas sugestões dos professores participantes do projeto.
“Esse é o objetivo, que essa sugestão possa se tornar, a partir da iniciativa de um profissional de educação, ter uma lei que beneficie todos os profissionais de educação em todo o Espírito Santo”.
//Folha Vitória