Existem três datas para comemorar o dia do solo: 15 de abril (Dia Nacional da Conservação do Solo); 22 de abril (Dia Internacional da Mãe Terra) e 5 de dezembro (Dia Mundial do Solo). As três nos levam a pensar sobre como tratamos a terra.
O Dia Internacional do Solo foi estabelecido durante o XXVII Congresso Mundial de Ciência do Solo, em Bangkog, Tailândia, em 2002, pela Sociedade Internacional de Ciência do Solo (IUSS). Foi escolhido o dia de 5 de dezembro como homenagem ao Rei da Tailândia, Bhumibol Adulyadej, em função de sua dedicação em promover a ciência do solo, enfatizando a conservação do solo como uma questão ambiental.
A outra data, o Dia Internacional da Mãe Terra, foi criada nos Estados Unidos pelo Senador Gaylord Nelson, falecido em 2005, e depois extendida para quase todos os países. O objetivo principal desse dia é conscientizar sobre a necessidade da preservação e conservação dos recursos naturais.
E no dia 15 de abril comemoramos o Dia Nacional da Conservação do Solo, conforme a promulgação da Lei Federal n. 7.876, de 13/11/1989. A escolha dessa data foi em homenagem a Hugh Hammond Bennett, o pai da conservação do solo nos Estados Unidados. Esse dia propõe uma reflexão sobre a conservação dos solos e a necessidade da utilização adequada desse recurso natural.
FAO: 33% dos solos do mundo estão degradados
Mesmo com três datas em sua homenagem o solo ainda sofre. Relatório da FAO lançado em dezembro em Roma, com participação da equipe da Embrapa Solos (Rio de Janeiro-RJ), revela que 33% dos solos do mundo estão degradados por erosão, salinização, compactação, acidificação e contaminação. Entre outros prejuízos, como selamento da terra – que agrava as enchentes – e perda de fertilidade, os solos degradados captam menos carbono da atmosfera, interferindo nas mudanças climáticas. Por outro lado, quando gerido de forma sustentável, o solo pode desempenhar um papel importante na diminuição das alterações climáticas, por meio do sequestro de carbono e outros gases de efeito estufa.
“Status of the World’s Soil Resources” reúne o trabalho de cerca de 200 cientistas do solo de 60 países. A pesquisadora da Embrapa Solos, Maria de Lourdes Mendonça, faz parte do conselho editorial e pesquisadores de outros centros de pesquisa da Empresa também participaram da publicação.
Somente a erosão elimina 25 a 40 bilhões de toneladas de solo por ano, reduzindo significativamente a produtividade das culturas e capacidade de armazenar carbono, nutrientes e água. Perdas de produção de cereais devido à erosão foram estimadas em 7,6 milhões de toneladas por ano. Se não forem tomadas medidas para reduzir a erosão, haverá a diminuição total de mais de 253 milhões de toneladas de cereais em 2050. Essa perda de rendimento seria equivalente a retirar 1,5 milhão de quilômetros quadrados de terras na produção de culturas – ou cerca de toda a terra arável da Índia.
Na América Latina o cenário também é preocupante. “Cerca de 50% dos solos latinoamericanos estão sofrendo algum tipo de degradação. No Brasil, os principais problemas encontrados são erosão, perda de carbono orgânico, e desequilíbrio de nutrientes”, explica Maria de Lourdes.
Os solos brasileiros também sofrem com a salinização, poluição, acidificação. “A agricultura familiar retira mais nutrientes do solo do que repõe. Isso acontece porque falta conhecimento mais detalhado do solo e políticas públicas para que o pequeno produtor possa fazer o manejo adequado da terra”, aponta a pesquisadora. Segundo ela, o Brasil é o país que mais possui áreas que podem ser incorporadas à agricultura, porém precisa avançar na adoção de práticas sustentáveis na produção de alimentos e no conhecimento dos solos. “Possuímos tecnologias que promovem a agricultura sustentável, mas elas precisam ser mais adotadas pelos produtores, tais como o plantio direto, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e a fixação biológica de nitrogênio, por exemplo. No entanto, somente com o conhecimento detalhado dos solos é que será possível dar suporte ao crescimento dessa agricultura sustentável”, informa Maria de Lourdes. Até 2030 será necessário aumentar a produtividade mundial de alimentos em 60% para suprir a população que somará 8,5 bilhões de pessoas.
“A perda de solos produtivos prejudica gravemente a produção de alimentos e a segurança alimentar, amplifica a volatilidade dos preços dos alimentos e, potencialmente, mergulha milhões de pessoas à fome e à pobreza. Mas o relatório também oferece evidências de que essa degradação pode ser evitada, “disse Diretor Geral da FAO, José Graziano da Silva.
O relatório constata que as mudanças climáticas – foco da conferência das Nações Unidas COP21 em Paris – é mais um forte motor da mudança do solo. Temperaturas mais altas e eventos climáticos extremos relacionados, tais como secas, inundações e tempestades impactam diretamente na quantidade e fertilidade do solo. As alterações no clima também têm reduzido a umidade e esgotando as camadas de solo rico em nutrientes. Também têm contribuído para um aumento na taxa de erosão do solo e recuo da costa, proporcionando o avanço do mar cada vez maior.
A acumulação de sais no solo reduz o rendimento das culturas e pode eliminar completamente a produção vegetal. Salinidade induzida por humanos afeta um número estimado de 760.000 quilômetros quadrados de terra em todo o mundo – uma área maior do que toda a terra arável no Brasil. No País, a área mais afetada pelo problema é o Nordeste, geralmente provocada por irrigação em áreas impróprias.
Por fim, a acidez do solo é um grave obstáculo à produção de alimentos em todo o mundo. Os solos mais ácidos do mundo estão localizados em áreas da América do Sul que sofreram desmatamento e agricultura intensiva.
Colaboração no texto: Elisângela Santos (Embrapa Solos) e Ângelo Mansur (Embrapa Rondônia)