Quem disse que o mundo hip hop é masculino? Camilla Santos, mais conhecida como Siren, é uma artista de rua brasiliense que veio para mostrar que as mulheres também se encaixam nesse movimento. Aos 21 anos, a artista já tem espalhados por Brasília e outros estados diversos desenhos que utilizam a técnica do grafite.
Formada em design gráfico, Siren considera o grafite o seu carro chefe, mas gosta de fazer “o que dá na telha”. Ilustração digital, bordado, xilogravura, pintura em tela, grafite, tudo isso faz parte do trabalho de Camilla, que busca, com sua arte, transmitir mensagens sobre a força feminina e da natureza.
“Eu tenho muitas referências em muita coisa que eu assisto, que eu escuto, principalmente coisas visuais, elas me inspiram muito. As minhas meninas nas ruas, as mulheres que eu grafito nas paredes, elas sempre são fortes, por mais machucadas ou magoadas que estejam, elas estão sempre colocando algo positivo para fora”, conta a artista, que costuma imprimir em seus desenhos muito da arte japonesa e retratar figuras femininas com cores de pele diferentes, como laranja ou roxo.
A artista, que não consegue imaginar uma fase da vida sem que pudesse desenhar, queria continuar podendo fazer o que gostava, mas não sabia como. Em 2014, quando terminava o ensino médio, a pressão para escolher uma profissão aumentava cada vez mais. Foi aí que conheceu o grafite. Camilla teve que desconstruir tudo o que já conhecia e aprendeu a passar sua arte do papel para a parede, com o spray. A parte favorita foi parar de deixar trabalhos trancados na gaveta, o que considera como desapego.
“Você faz o trabalho e ele não é seu mais. É da rua, ele está naquela parede. Então o tempo vai desgastando, o próprio cotidiano da rua vai desgastando o desenho. Eu gosto muito de desenhar na rua, de pintar na rua, porque é uma coisa muito viva. É uma coisa que está sempre em constante mudança e isso mistura com você como artista”, destaca.
Para Camilla, o preconceito ainda é o responsável por poucas mulheres fazerem parte do movimento. Ela explica que, geralmente, a cada evento com artistas do grafite, as mulheres presentes não passam de 10 a 20% dos convidados. Além disso, o medo da violência também mantém elas longe dos trabalhos nas ruas.
“Quando eu comecei a grafitar, acho que dos cinco grafiteiros que conheci, de primeira, todos eram homens. Por ter eu conhecido primeiro os caras, acho que já foi me apresentado como é o mundo Hip Hop, o mundo do grafite. A maioria das pessoas que estão no movimento são homens. Acho que tem muita menina que tem muito potencial e que às vezes não é aproveitado por falta de oportunidade, por causa de dificuldades na caminhada”, ressalta a artista.
Por Aline Dias