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Mulheres no pagode : Pela primeira vez, mulheres assumem protagonismo no pagode baiano

 

Redação FM News

Durante anos, as mulheres só se destacavam no cenário do pagode como backing vocal ou dançarina. De um tempo cara cá, donas de vozes potentes e de um belo gingado agitam casas de shows, boates, festas “paredões” e também lutam por reconhecimento e respeito de produtoras e de fãs.

Em outras épocas, os nomes de Carla Perez, Scheila Carvalho e Sheila Mello, todas ex-dançarinas do É o Tchan, eram lembrados quando se falava de mulheres e pagode na Bahia.

As pagodeiras Aila Menezes, Allana Sarah (A Dama), Rai ferreira (Rainha do Pagofunk) e Tertuliana Lustosa vêm lutando para conquistar um espaço que sempre foi dado para os homens.

Não havia bandas de pagode comandadas por mulheres na Bahia até 2007. O ano ficou marcado pela estreia de Aila Menezes, de 31 anos, comandando a banda Afrodite, toda montada por dançarinas e percussionistas do gênero feminino.

Aila Menezes se apaixonou pelo pagode aos sete anos, já foi backing vocal do cantor e compositor Carlinhos Brown, por cerca de três anos, cantou em barzinhos de Salvador e também participou de bandas de outros estilos musicais.

“A gente [mulheres] era só dançarina, a gente era só um bumbum bonito que rebolava e remexia, um corpo incrível com coreografias e hoje as mulheres, além desses corpos, as mulheres têm a voz ativa, a voz de fala”, disse Aila.

Para Aila Menezes, o pagode é marginalizado por uma parte da sociedade por causa de uma questão estrutural.

“O pagode é marginalizado porque a totalidade da nossa sociedade é estruturalmente racista e desigual. Todos os tipos de músicas falam de qualquer assunto, mas existe aquela implicância com o pagode”, disse.

“Tem pessoas que dizem: ‘O pagode é coisa de gente baixo-astral’, mas o que seriam pessoas baixo-astral? É exatamente a desigualdade de classes. O pagode é aquela ‘onda’, é som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado”.

Pagode feminino na Academia

As jornalistas Beatriz Almeida, Giovana Marques, Joyce Melo e Tainá Góes desenvolveram um TCC sobre a representatividade feminina no pagodão em 2020. O projeto delas contou com a produção do artigo científico “Transformações Provocadas pela Presença de Mulheres Vocalistas na Cena do Pagode Baiano” e o documentário “Pagodão: A cena por elas”.

Segundo Joyce Melo, uma das integrantes do grupo, a ideia surgiu por causa da afinidade de todas as jornalistas com o pagode baiano e a vontade de tratar o papel da mulher no cenário.

“Todas as meninas da equipe tem alguma afinidade e história particular com o pagode baiano, nesse sentido, quando surgiu o tema de pagode, foi para falarmos sobre a cultura periférica, como esse ritmo está associado às pessoas negras e tem toda cultura ancestral, e estudar de onde surgem os preconceitos com o ritmo”, disse.

“No entanto, ao buscarmos pesquisas sobre o tema, não encontramos nada sobre o lugar da mulher fora do papel de “piriguete”, apenas estudos sobre a sexualização desse corpo”, completou.