Todos nós gostamos de dormir bem, e nossos antepassados também gostavam.
Podemos aprender muito com a forma como eles lidavam com a falta de sono e a insônia.
A seguir, contamos cinco antigos truques e conselhos para ter um sono restaurador.
Crie uma rotina
Os primeiros gurus do sono acreditavam que a consistência era chave para uma vida longa e virtuosa.
Somos obcecados pelo sono – ou a falta dele. No nosso mundo de longas jornadas de trabalho, altos níveis de estresse e muito tempo diante de telas, a busca pelas tão recomendadas oito horas diárias de sono se tornou uma espécie de Santo Graal.
Mas o que faziam nossos antepassados? Como combatiam a falta de sono? A primeira coisa na lista de prioridades era estabelecer um período determinado dedicado a dormir e ater-se a ele todas as noites.
Acreditavam que ter um número fixo de horas de sono por noite era chave para manter corpo, mente e alma em boa forma.
John Wesley, líder do movimento metodista, ecoava seus antepassados do século XVII quando aconselhava seus seguidores a deixar as pendências para o dia seguinte e manter seu horário.
A importância do sono regular sobre a psiqué moderna é tanta que, junto com ar puro, dieta, excreção, exercício e paixões da mente, era considerado um dos seis ingredientes essenciais para equilibrar os quatro humores do corpo: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra. Acreditava-se que isso ajudava a manter a saúde física e mental no longo prazo.
Ter um horário de sono regular também era considerado um importante indício da reputação e da saúde espiritual de uma pessoa.
Elizabeth Livingston, de 15 anos, dama da rainha Catarina de Bragança, mulher de Carlos II, se autodenominou “preguiçosa de Salomão” quando confessou que “ficava na cama até meio-dia”.
Elizabeth estava claramente com medo de que esse costume afetasse negativamente a saúde do seu corpo e sua alma.
Coma cedo
Para os nossos antepassados, o segredo de uma boa noite de sono estava no conteúdo de suas entranhas.
Conhecemos as características da cafeína desde que a bebemos. Já no século XVII, o farmacêutico francês Philippe Sylvestre Dufour dizia que se deve evitar o chá e o café antes de se deitar, destacando que isso só era útil para quem estuda à noite.
Mas nossos antepassados achavam que a comida e a bebida poderiam curar a privação de sono, assim como causá-la.
Eles tomavam sopa de alface por suas qualidades soporíficas e, de vez em quando, tomavam uma bebida quente e leitosa conhecida como “posset”, que era ingerida na hora de deitar-se, que fortalecia o estômago com uma “manta” de lácteos.
Os primeiros médicos modernos estabeleceram vínculos estreitos entre um sono saudável e uma boa digestão.
No seu livro de 1534, Castel of Health (O Castelo da Saúde, em tradução livre), o advogado e intelectual Sir Thomas Elyot escreveu: “a digestão é melhor durante o sono, o corpo relaxa, a mente fica mais tranquila e clara e o humor se acalma”.
Também se acreditava que adotar uma postura correta para dormir acelerava a digestão. Aconselhava-se dormir com a cabeça erguida para evitar a regurgitação.
Era encorajado, ainda, alternar posições durante a noite – descansar primeiro sobre o lado direito permitiria, achavam, que a comida descesse facilmente até o estômago.
Virar para o lado esquerdo, mais frio, depois de algumas horas, liberaria vapores do estômago que haviam se acumulado do lado direito e distribuiria o calor de maneira mais uniforme por todo o corpo.
Durma na sua própria cama
Nunca subestime o poder de um ambiente de descanso seguro, relaxante e, sobretudo, familiar.
Todos nós apreciamos a segurança, a familiaridade e o conforto que dormir na nossa própria cama nos traz.
E não ficamos tranquilos quando alguém viola esse espaço.
Desde o passado, as camas eram apreciadas porque tinham importantes funções sociais, ritualísticas e emocionais, além de serem lugares de conforto e segurança.
Nossos antepassados às vezes dormiam em camas e com roupas de cama que haviam sido herdadas de parentes, que haviam ganhado de presente de casamento ou na ocasião do nascimento de um filho.
As mulheres faziam ou decoravam lençóis, colchas e edredons para seus entes queridos e, ao fazê-lo, davam à roupa de cama um grande valor sentimental.
Não é de se estranhar que a escritora britânica Alice Thornton tenha lutado com unhas e dentes contra os cobradores de impostos da corte na década de 1660 para manter posse da cama vermelha que sua mãe havia deixado para ela.
Esta era a cama onde Alice e seus parentes haviam se recuperado de doenças na infância e na qual Alice havia chorado a morte do seu marido, William.
Essa obsessão do século XVII com a familiaridade parece ser confirmada pela ciência. Os pesquisadores do sono sempre souberam do “efeito da primeira noite”: a ideia de que as pessoas dormem mal em ambientes desconhecidos.
Os cientistas acreditam que isso se deve ao fato de que parte do cérebro fica em “vigilância noturna”, dormindo levemente, caso o novo ambiente seja inseguro.
Baixe a temperatura
Uma das melhores maneiras de dormir à noite é baixar a temperatura.
Os especialistas em sono acreditam que há uma temperatura ambiente ideal para dormir bem: 18,5°C. É possível que nossos antepassados não tenham tido acesso a dados tão precisos, mas isso não os impedia de serem muito conscientes sobre como o calor excessivo afeta negativamente o sono.
Então, o que faziam para manter seus quartos frescos? Abriam portas e janelas para garantir um fluxo constante de ar e soltavam aromas de rosa e orégano.
Também gostavam de lençóis de linho pela sensação refrescante que dão.
O linho proporcionava o benefício adicional de proteger as pessoas de pequenos, mas potentes inimigos do sono: mosquitos e pulgas.
Eles, segundo o escritor irlandês do século XVIII Oliver Goldsmith, têm uma capacidade incomparável de atrapalhar o sono.
Se os lençóis falhavam, então os donos das casas poderiam tomar medidas para limpar suas camas e fumigar os colchões. Hannah Glasse, autora de um livro sobre como lidar com o lar, aconselhava as pessoas que viviam em áreas pantanosas a colar pedaços de esterco à cama para manter os insetos longe.
Soníferos naturais
Na era moderna, os remédios caseiros eram uma arma importante na guerra contra a falta de sono.
Quando o sono nos escapa, muitos de nós buscamos a ajuda dos remédios para dormir. Isso não era uma opção para os primeiros insones, mas isso não quer dizer que não tivessem opções, só tinham que ser mais criativos.
Os remédios caseiros para dormir eram parte importante dos medicamentos do lar. Receitas eram transmitidas de geração em geração.
Um livro de receitas assinado por Elizabeth Jacobs em 1654 incluía quatro remédios para a falta de sono. Um misturava sementes de papoula com cerveja, vinho branco ou vinho fortificado, dependendo da idade do paciente.
Os remédios menos potentes incluíam destilados de flores de maçã, pétalas de rosas, lavanda, pepino e alface, que poderiam ser ingeridos ou aplicados externamente, para resfriar a cabeça, o pescoço e o estômago.
Uma receita da década de 1710 recomendava misturar folhas de rosas vermelhas, leite e noz moscada, molhar um tecido com a mistura e aplicar nas têmporas antes de dormir.
As folhas secas de rosas também eram usadas para encher almofadas e colchões e eram espalhadas entre a roupa de cama para produzir um aroma “doce e agradável”.
Muitos desses ingredientes soníferos eram cultivados em casa, portanto, na próxima vez que ficar sem sono, pode avaliar o que seu jardim oferece.
// BBC Brasil